CÂNDIDA E O DISCURSO AUTOFÁGICO

Os agentes da Justiça, como a radialista dra. Cândida, já deveriam ter compreendido que todo o discurso que negue e inverta uma afirmação acusatória grave, ou uma suposição de equivalente gravidade, anula-se a si mesmo, devora-se a si mesmo. Nisto incorreram o Ainda-PM, o PGR, o dr. Lopes da Mota e a dr. Cândida ao afirmarem enfaticamente não haver pressões nem contaminação manipulatória política do processo Freeport: negando, reforçaram a plausibilidade afirmativa da matéria negada e converteram-na em fática afirmação traduzível em: sim, há pressões e, sim, o processo Freeport está fortemente contaminado do ponto de vista político. Portanto, negar não passa de autofagia discursiva. Quando se quer negar alguma coisa, deve recusar-se fórmulas negativas porque não tranquilizam, antes repegam as acusações (dizer que não há pressões equivale a afirmá-las). Por isso, deve optar-se ou pelo silêncio ou pela inadmissibilidade liminar de essa hipótese. O modo apaixonado e sôfrego com que o PM adressa a questão Freeport acentua o lodaçal e aperfeiçoa o pântano tal como o facto de se atirar, intimidatório e castrante, às opiniões e opinadores que lhe são contrários. Não há recursos financeiros que lhe assistam caso opte por processar todos os que lhe analisam o passado curricularmente e lhe lêem os factos mais chamuscados de ultraduvidoso: «A procuradora geral adjunta, Cândida Almeida, garantiu ontem à Rádio Renascença que não há qualquer manipulação política no processo Freeport e que a investigação segue o seu curso, numa reacção às declarações do primeiro-ministro José Sócrates numa entrevista à RTP.»

Comments

antonio ganhão said…
Espero que a senhora não se decida por entrar num reality show...

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