COMPULSIVO DESPOJAMENTO INDUZIDO
Creio na compaixão como bem e realização humana suprema. Creio no despojamento como etapa espiritual para aceder a um Bem Espiritual ainda Maior, mas dispenso esse despojamento induzido que a lógica oligocrata portuguesa diligentemente promove* e que nos vai remetendo a uma parda miséria, não fosse esta uma sociedade a mais desigual da Europa logo atrás dos Estados Unidos. Sim, Inequality is the mother of all evils! Que faremos de ti, Portugal, com os teus passos de veludo rumo a uma explosão social indignada que não deixará pedra sobre pedra?! Não sei. Ó luz aziaga! O meu despojamento induzido e compulsivo, já agora, precisa urgentemente de 20 euros para comprar leite em pó, dos 0 aos 6 meses, que me custa 13, 89 euros de quatro em quatro dias, o que com 271 euros de subsídio de desemprego não posso comportar. O meu despojamento compulsivo e induzido pede-os às reformas acumuladas de Regime de Almeida Santos e de Mário Soares, pede-os às reformas legais mas imorais de Silva Lopes, pede-os ao Primo chinês de José Sócrates, ao Tio dele e aos donos daquelas empresas poderosíssimas que favoreceu e para as quais trabalhou abnegadamente nestes quatro anos, pede-os ao exemplo de meritocracia em Armando Vara, e pede-os ao exemplo de cristianismo financeiro em Jardim Gonçalves, pede-os à rapaziada clientelar do PS e à mancomundada rapaziada clientelar do PSD, a primeira crente numa reedição da Mama Orçamental proporcionada por uma nova Maioria Absoluta, caso o povo seja parvo e a segunda altamente indiferente, já que mama de qualquer modo para estar quieta, calada e sossegada mais PS menos PS. Pedir não é crime. Roubar é. E a Gente que Rouba em alto Grau em Portugal também é tida em altíssimo apreço quase por toda a gente. São 20 euros de merda. Pede-os também, o meu despojamento induzido e compulsivo, exclusivamente a todos os filhos da puta de que não me recordo o nome mas que certamente amaldiçoam Portugal com os impostos milionários a que fogem transformados em obras de arte milionárias, guardadas no recôndito milionário dos Casinos, e convertidos em milionários automóveis de luxo. Tudo isto é triste, tudo isto é podre, tudo isto é Portugal: «No final da missa de canonização desta manhã, o Papa Bento XVI referiu-se ao "sentido de compaixão e despojamento de quem deu os seus bens aos mais desfavorecidos", falando do Santo Condestável.Ao contrário do que sucedera durante a homilia, em que destacara apenas a dimensão do militar que realizara "os princípios da vida cristã", Bento XVI falou, na alocução final do Regina Coeli, da "nobre lição de renúncia e partilha" dada por Frei Nuno de Santa Maria. Sem essas características, referiu o Papa, "será impossível chegar àquela igualdade fraterna característica de uma sociedade moderna, que reconhece e trata a todos como membros da mesma e única família humana".»
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* «Spain and Portugal are Mediterranean neighbours with many cultural connections and close parallels in their recent history – both democratised in the 1970s after the fall of authoritarian regimes. One difference is that Spain is the more ethnically diverse, and diversity is sometimes said to strain social solidarity. But Spain is mid-table in the inequality league while Portugal is near the top. And the chart shows that the Portuguese side of the Iberian peninsula has many more social problems. [...] In unequal societies, such as Britain and the US, psychiatric prescriptions are also particularly high.[...] What is true of individual sickness also applies to social diseases, such as illiteracy and crime. Unequal societies have more prison, more mental illness and more illiteracy – often many times more.»
Comments
Hoje de manhã, ao pequeno-almoço, tinha a televisão sintonizada na SIC Notícias e dei atenção à "peça" jornalística sobre a canonização de Nuno Álvares Pereira. Mais uma vez, a velha querela (guerra, confronto ou teima, para os zés povinhos) entre o Estado laico e a Igreja secular. Como é?... Afinal, Nuno Álvares Pereira é herói porque enfardou forte e feio nos castelhanos, ou é santo porque curou a maleita do olho de uma senhora que tinha muita fé nele? Bem, adiante...
Confesso que quis ouvir com atenção a mensagem do Presidente da República, que a reportagem foi buscar ao sítio da Presidência da República na Internet. Assim que acabei o pequeno-almoço, atirei-me à Internet. Sim, lá estava a mensagem, preto no branco, todas as palavras escritas; vídeo e tudo!...
Senhores!... Abismei!... Fiquei de queixo caído!... Juro!, pela saúde destes olhinhos que a terra há de (pelo menos aqui, a grafia está já de acordo com o que vem novo Vocabulário, calhamaço que folheei há dias; é asim agora, sem hífen) comer!
Eu peço desculpa a toda a gente (não vá eu, se o não fizer, esquecer-me de alguém...), mas tenho o pensamento toldado pela emoção e não consigo escolher nem organizar as palavras para que este meu escrito seja mais substantivo que adjectivo, ou que seja menos crispado e mais programático. Que todos os paulos portas da nossa política me perdoem!...
Então não é que depois da sessão solene de ontem, em que toda a gente falou de crise ECONÓMICA, que tanta gente (o Senhor Presidente da República incluído) deixou recados POLÍTICOS, o Senhor Presidente da República vem hoje (menos de 24 horas depois!...) dizer que o exemplo de Nuno Álvares Pereira, o exemplo de "o forte Dom Nuno" - diz ele, citando Camões (olhem logo quem ele foi buscar!...) - é um exemplo "muito em particular, para as nossas Forças Armadas"!?... É verdade, senhores, pasmei!...
Esperem aí!... Então, ontem, como já disse, menos de 24 horas antes do que hoje foi oficialmente publicado, ele não esteve numa sessão solene, no espaço físico, público, mais simbólico da identidade política do nosso País, a dizer que a crise é económica, a lançar recados aos políticos e a homenagear o exemplo de 35 anos... precisamente dos Capitães de Abril (quer dizer, das Forças Armadas)!?...
Se calhar também quem nos governa também deixa o pensamento claro e objectivo ser invadido pela névoa das emoções, e atire a discussão da canonização de hoje para alternativas de preto ou branco: ou herói militar, ou santo milagreiro.
Confesso que pouco me importa a canonização ou não de Nuno Álvares Pereira. Já há muito que a sua vida deveria ser inspiração e exemplo para muita gente governante do nosso País. Se a canonização tornar mais forte essa inspiração e esse exemplo, pois então, seja.
Portanto, se a crise é económica, se os avisos de ontem, dia 25, são para os políticos, se as notícas que todos os dias nos chegam a casa são as da corrupção e do enriquecimento ilícito de quem se move nas esferas do poder político e económico, não teria sido mais razoável que o Senhor Presidente da República destacasse o exemplo da renúncia do forte Dom Nuno às honras do Reino e aos bens materiais e a sua dedicação sincera, humilde e inteiramente despojada de confortos materiais a uma vida de serviço ao Próximo? Que tivesse destacado estes exemplos "mais em particular, para os senhores deputados, membros do Governo e outros poderosos", que tanta legitimação pedem ao povo de Nuno Álvares Pereira, ciclicamente, em actos eleitorais (este ano vai ser uma barriga cheia de legitimação!)?