ESTABILIDADE, PALAVRA MALDITA

Governar para os indicadores dá em desastre e este XVII Governo Constitucional superou todos os limites para adequar à Casaca Apertada que lhe impõem outros um povo cada vez mais carente de tudo. Computadores sem pão! Ciência sem sabedoria ou simples bom senso! Quem for reler Os Maias perceberá que está ainda viva e governa essa mesma geração de medíocres submissos à carapaça da Civilização, mas não às suas aquisições indeléveis, sobretudo sociais. E está flagrantemente ainda viva e governa essa mesma geração de medíocres frementes pelos deslumbramentos de uma Europa parisiense e londrina, dos indicadores bem passíveis de forja ou inflaccionamento para inglês ver. Geração ainda mais parola e tacanha que a do último quartel do século XIX a que se reporta aquele fabuloso romance. Geração viva para o supérfluo. Morta para o social e para a fome e sede de justiça em todos os planos que por cá muito rareia. Os ditames do dinheiro internacional e dos fortes interesses estabelecidos no País porventura a isso obrigam e os cidadãos votam sem real discernimento no PSD ou, muito pior ainda, no PS. Enfim, governa-se para os indicadores, mas era urgente que se governasse corajosamente em Portugal para as pessoas. Finalmente para as pessoas. Isso, sim, seria inovador, desde o vinte e cinco de Abril de 1974. Entretanto, fala-se em estabilidade para significar o sistema velho que perdura em trinta e cinco anos como se a aposta estável em ciência dependesse da manutenção de um sistema partidocrático obsolescente, completamente incapaz de se refrescar, como se dependesse da manutenção em funções governativas um Governo-PS completamente insensível, cego e incapaz de servir todos os portugueses, mas só alguns. Só os seus apaniguados, avençados e apoiantes declarados com provas dadas ao grande Polvo dos Favores: «José Sócrates falava na abertura do "III Encontro Ciência 2009", que termina quinta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, num discurso em que advogou que a ciência constituiu uma das principais apostas do seu Governo ao longo da legislatura e, por outro lado, que Portugal progrediu em todos os indicadores internacionais nesta área de actividade. [...] "É preciso paciência para obter resultados. Por isso, a área de actividade científica tem de estar protegida das turbulências económicas e financeiras e até das turbulências políticas. A estabilidade no investimento e a persistência na aposta são factores absolutamente decisivos para que os resultados apareçam na ciência", frisou o primeiro-ministro, num recado político em relação às opções em jogo na próxima legislatura.»

Comments

Anonymous said…
Ao Senhor PM so lhe reconheço incompetencias. Julga-se muito corajoso? Pois na minha modestia opiniao o Senhor é um cobarde porque a sua coragem apenas serviu para destruir tudo quanto era povo porque aos Gestores Públicos, politicos e alta finança o Senhor rastejou aos seus pés. E pelo que li já quando foi Ministro do ambiente fez a mesma coisa a força foi apenas para o povo. Pelos vistos competencias acdémicas tambem não tem. Estou convencida de que enquanto for o dirigente do PS este nunca mais sera governo tenho uma impressao de que os analistas politicos também contribuiram para enganar o seu ego. Espero ter a mesma alegria no 27 de Setembro que tive no 7 de Junho
Patrícia Grade said…
caro verbum saurus,

a mim, depois de ler esta tua prosa, ocorre-me recordar outra bela prosa de um outro Dali da palavra, esse nosso grande Pessoa.
Diz então ele, lá nos idos de 192e troca o passo, que o caso mental português se divide em três - os pacóvios, os parolos e o escol, que em Portugal não deixa de ser provinciano até à medula. E porquê? Porque temos nos genes essa profunda aversão ao que seja nosso para nos deslumbrarmos com o mais medíocre do estrangeiro...

Ainda hoje é assim, como bem dizes e a superficialidade é tanta, que massa crítica, digna de um escol de excelência, não existe e a que se auto-denomina crítica é tão parola e deslumbrada como a burguesia superficial e carneirinha...

Ou isso, ou sou eu que tenho a mania que sou mais que os outros e vejo coisas onde elas não existem...
Anonymous said…
O triste de Portugal é ter a certeza de que a política e a ganância comercial é o mesmo. Tudo fica no bolso deles e quem vier a seguir fará igual ou pior. Neste país não há alternativas políticas porque os cidadãos têm medo de mudar. A política é como o clube de futebol ou a nacionalidade. Falar em mudança é tabú. Falar em responsabilidade é tabú. Há tantos tabús e tantos medos que ningém dá a cara. Toda a gente se queixa de boca para fora no café, mas ninguém se dá ao trabalho de pedir o livro de reclamações. Isso dá muito trabalho.

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