PEDAÇOS DE PORTUGAL
«Seis da tarde. Não dera pela passagem do tempo. Um café, bolinhos e a marcante gentileza do líder da comunidade em acompanhar-me até ao limite da aldeia. Para este passeio levei comigo um amigo francês, que compreende bem o que isto significa, pois é francês nascido na Argélia, como eu sou português nascido em Moçambique. No autocarro que me trouxe ao centro disse-me: "que gente tão amável. Note-se: vivem no seu mundo e não noutro mundo". Não pude dizer mais nada. Eles vivem no seu pedaço de Portugal. Se eu mandasse, dava-lhes de imediato a cidadania portuguesa.» Miguel Castelo-Branco, Combustões
Comments
desculpa tanto tempo sem dizer nada, mas a vida tem destes momentos sem tempo, sem descanso.
Este pedaço de texto mostra bem o que escrevi lá no rato e o sentimento que nutro pelo país. Infelizmente estamos entregues a uma "elite" (que arrepio e náusea chamar-lhes isso)que se serve de nós ao invés de servir-nos...
Calculo que me critiques por verbalizar a hipótese de partir, virar costas a um país que mais do que nunca precisa de todos quantos o querem mudar, mas não me parece que os "bons" portugueses queiram ou tenham forças para mudar seja o que for...
Vivemos hoje ainda o ciclo vicioso de há séculos meu verbum regis. Nada mudou, nada mudará. Nem com revoluções sem fim, não enquanto as mentalidades se mantiverem inalteradas. resta-nos apenas procurar olhar o país de fora, com saudade, com amor, mas de fora...
Acredita, é com dor que o digo e digo-to a ti porquê?
Porque sei que apesar dos teus pesares, amas este país com todas as tuas forças, porque é preciso amar para criticar, para colocar o dedo nas feridas, ainda que ao fazê-lo elas não sarem...
Digo-to porque me sinto só e perdida, porque me sinto dividida, porque a traição amarga-me a boca e queima-me a língua...
Eu daria a cidadania sem contemplações aos cidadãos desse pedaço de Portugal lá tão longe, porque são mais portugueses os que olham de longe a pátria, que os que cá vivem e desdizem a sorte de cá viver...
Que importância têm as palavras e como as mais simples parecem querer dizer tudo, abarcar todas as coisas, não é?
Sophia, na sua versão de mulher política, na sua face participativa, dizia que a política é serviço público e não servir-se do público.
Esta era uma mulher para quem a palavra era um mundo e por isso tinha de ser escolhida aquela que trazia para a claridade a realidade.
Parece-me, mal feita a comparação, que vivemos num tempo em que a palavra dita vive da obscuridade...
Que pena é sentir que o verbo é tão mal usado e abusado, quando deveria servir para nos educar, para nos informar, para nos iluminar...
Não ligues amigo, talvez seja este meu choro desconsolado por um Portugal que parecia vislumbrar e afinal me parece tão mais distante agora...
Mas como pode isso ser verdade?
Que ilusão nos amarra de tal maneira?
Pois se somos tantos a querer o bem!
Não será antes que o que nos amarra é o sabermos , é o sentirmos ou talvez até o termos vivido a experiência de como logo à partida nos separamos, de como temos tantas opiniões diferentes que o resultado é não conseguimos unir os esforços.
Temos dificuldade em nos unirmos em torno do Bem e da ideia e objectivo certo, aceitando os pequenos papéis de cada um nesse caminho.
E afinal é só isso que é preciso.
E é preciso.
Beijo