AO CONTRÁRIO DO GAZOFILÁCIO


André, de verdade que me não estou nas tintas
para o facto de lhe ter agradado a minha escrita.
Quero agradar-me em primeiro lugar a mim
e obviamente também agradar e muito, sem cedências a ninguém
ou a qualquer cartilha de sucesso certo vendida por aí como mezinha,
a quem goste do que eu escreva simplesmente porque sim, porque gosta.
lkj
E é por isso mesmo que lhe agradeço profundamente as palavras
e os sentimentos genuínos que lhes subjazem, segundo me parece,
quando é tão verdade que eu, como outros semelhantes a mim
no semelhante lavrar do verso quotidiano, não as leio, não as lemos
de todas as vezes e todos os dias como verdade e justiça subjectivas que nos façam.
E não as lemos muito menos em quem supomos que nos conhece
e aprecia por nos visitar precisamente todos os dias
com as suas frases levemente comiseratórias, parcas,
com planos para o nosso futuro e o redesenho da nossa existência,
com emoções e ideias contraditórias e subterrâneas a nosso respeito,
tudo isso óbulo mínimo das suas presenças assíduas e quase únicas.
lkj
O acusar a recepção do prazer proporcionado pelo escritor,
acaba o André de o fazer!, é quase tudo para alguém vulcânico,
vocacionado para uma escrita vulcânica,
nascida por força do seu sangue grosso de sensibilidade ulcerada,
como quero a minha escrita por ser assim o meu ser e é ela o que é,
para além do que eu queira já dela.
lkj
Muitos frequentadores dos gazofilácios de todos os tipos e de todas as eras
foram, eram, são efectivamente ruidosos, percutindo gongos,
no fazer tilintar bem alto o próprio Ego aos circunstantes,
mas vieram, vinham, vêm, afinal, de coração bruxuleante
repleto de hesitações superficiais dentro si mesmos a respeito de si mesmos,
depositar a oferta ao deus que em vão escolheram
para em vão servi-los de lisonja e plataforma. Não faltam estes.
lkj
O André verificará que é a vulgar maioria especiosa e presumida,
quando sequer os temos. O absoluto contrário seria melhor.
Em Portugal, julgo eu e vêm dizer-me, só pode ser assim
porque por cá a inveja traveja o carácter nacional
e criminaliza-lhe em diversos graus a existência quotidiana.
lkj
Por isso, e só por isso, escrevo, comento, discuto, argumento e escuto
sempre ao contrário da lógica hetero/autoveneratória
dos frequentadores de gazofilácios antigos e modernos.
Não quero o favor do gongo, nem o voltar dos rostos para mim,
depois dele ressoar porque o fiz ressoar.
É preciso que me olhem com a naturalidade da descoberta
para o bem intenso e prazer ainda mais intenso de eles mesmos.
lkj
E é com amizade e estima que dedico ao André, creia-o!, estas palavras,
ao contrário, completamente ao contrário, do eterno gazofilácio.

Comments

antonio ganhão said…
O pior dos convencidos é aquele que tem a sua auto-estima em baixo, e um sentimento perene de inutilidade social. Agarra-se a um blog como tábua de salvação, excrementa escrita em linkomania e insinua-se aos que toma por amigos!
joshua said…
O mais chato e impertinente dos chatos tem sempre uma voz superioral e chata e a mania descritiva chata do que pensa que sabe sobre quem com ele entrechocou copos de vinho e banalidades da internet festivas!

Às vezes o teu ciúme violento e descabelado surpreende-me.

PALAVROSSAVRVS REX
Anonymous said…
Não posso deixar de agradecer as suas tão caras palavras.
Quando comentei o seu post "Bebiana coração-pocilga" fi-lo de facto com genuinidade de opinião e sem intenção de que me laureasse com tão notável destaque.
Uma vez que o fez devo-lhe uma vez mais um agradecimento.
Foi pois com enorme honra que li o texto que redigiu e teve a gentileza de publicar.
Foi com enorme regozijo que humildemente saboreei a sua "excrementa escrita em linkomania" e me soube a néctar.
É com visceral alegria e vulcânica amizade que afirmo despudoradamente que fiquei sensibilizado e embevecido com aquilo a que ignobilmente chamam de "insinuação".

"A inveja traveja o carácter nacional
e criminaliza-lhe em diversos graus a existência quotidiana".

Como atrever-me a contestar?

Abraço sentido.

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