ELOÁ E NAYARA, O NÓ CEGO DE UM CASO SIMPLES


Um caso que agitou a opinião pública brasileira por estes dias
teve um desfecho bem trágico e bem triste, adiante pormenorizado,
sendo que de esta vez a actuação das polícias,
embora sempre polémica, parece estar ao abrigo de acusações,
uma vez que terá seguido um perfil de sequestrador
que não autorizaria outra linha de acção que a inacção prolongada e tardia.
Nunca compreenderemos até que ponto a mediatização natural do caso
operou um encurralamento moral do sequestrador,
conduzindo-o a uma metamorfose imprevisível num desfecho
muito mais que cruel para ambas as moças amigas, Eloá e Nayara.
lkj
O coronel Eduardo Félix, comandante do Batalhão de Choque
da Polícia Militar de São Paulo disse, em entrevista colectiva neste sábado,
que os polícias tiveram condições de atingir Lindemberg Fernandes Alves
durante as cem horas em que fez duas adolescentes reféns em Santo André.
lkj
A iniciativa não foi tomada, no entanto, por se tratar
de «um jovem em crise amorosa».
«Nós poderíamos ter dado o tiro de comprometimento.
Mas era um garoto de 22 anos, sem antecedentes criminais
e com uma crise amorosa. Se nos o tivéssemos atingido com um tiro
de comprometimento, fatalmente estariam questionando por que motivo o Gate
não negociara mais, por que deram um tiro num jovem de 22 anos de idade,
numa crise amorosa, fazendo algo em determinado momento de que
se arrependeria para o resto da vida»,
afirmou o coronel.
lkj
Inconformado com o fim do relacionamento, Lindemberg Fernandes Alves
decidiu render a ex-namorada na última segunda-feira (dia 13 de Outubro).
Na ocasião, ela estava em companhia de três amigos
– dois garotos libertados no mesmo dia e a menina que,
apesar de ter sido libertada, retornou ao apartamento
na quinta-feira (dia 16 de Outubro).
A Polícia Militar invadiu o apartamento por volta das 18h10
desta sexta-feira (dia 17 de Outubro). O rapaz foi preso,
a ex-namorada levou um tiro na cabeça e outro na virilha
e a amiga foi atingida no rosto.
lkj
O coronel disse ainda que o apartamento não foi invadido
quando um disparo se fez ouvir na manhã de essa sexta-feira (dia 17 de Outubro)
porque, nesse momento, Lindemberg estava tranqüilo,
conversando com o negociador, de bom humor e tudo levava a crer
que ele se iria entregar. «A equipa que ali estava [na lateral]
pensou que ele disparou sem querer. Já de noite, o rapaz estava
com outro humor». Além disso, o comandante do Gate
(Grupo de Ações Táticas Especiais), Adriano Jovenini,
informou que uma técnica usada pelos policiais
é distinguir o som do tiro que não atinge nada
e o de um que penetre em algo ou alguém.
kjl
Ainda não se sabe se o tiro que a garota levou na virilha
se trata do disparado pela manhã ou um dos tiros nocturnos.
Perguntado se não poderiam ter colocado sonífero no alimento
ou bebida de Lindemberg ou algum gás no apartamento,
o capitão disse que isto poderia causar consequências
que não poderiam ser previstas. Jovenini informou que há medicamentos
que demoram em torno de 15 minutos para fazer efeito
e Lindemberg poderia perceber a “traição”
e atirar no momento em que estivesse adormecendo.
lkj
A polícia também explicou que a invasão
não ocorreu durante a noite porque apesar de conhecer o espaço físico do local,
a amiga da ex-namorada de Lindemberg havia dito que a cada dia
o agressor dormia em um lugar, e que às vezes as trancava no quarto
para poder dormir. «Talvez os senhores não entendam,
mas nestas horas de crise, temos que analisar toda a situação»,
disse o coronel. Sobre a dificuldade para entrar no apartamento,
a PM informou que sabia da possibilidade de Lindemberg ter bloqueado a porta
com algum móvel, mas que os explosivos foram montados atrás da porta
desde o começo da operação como uma estratégia
para ser usada quando e se necessária
e que a situação teria sido outra
se não houvesse uma mesa e um rack de vidro em frente à porta
– que prejudicaram a entrada dos polícias.
lkj
«Se a entrada não estivesse bloqueada,
os três estariam vivos hoje e não só o Lindemberg», disse o coronel.

Comments

Marcos Santos said…
Ontem às 23:30 (hora local) a menina teve sua morte cerebral confirmada. O meu inconformismo com as ações polícia paulista aumentou. Essa questão de proteger um rapaz transtornado em detrimento da integridade de suas vitimas não encontra respaldo, pois o rapaz, por suas ações, havia se colocado na linha de tiro. É mais ou menos como um desses casos de estudantes homicidas. Todos tem fichas limpas, mas ao tomarem a atitude extrema deixam um rastro de mortes. Ele assumiu o risco ao manter as jovens em cárcere privado. Elas não.
joshua said…
Parece então, Marcos, que a polícia levou mais em conta uma suposta crítica da opinião pública [o que é UMA opinião pública?] se tivessem intervindo contra um jovem sem cadastro que a urgência de salvar essas pobres moças. Cada vez mais delicada a posição da polícia por aí, quando intervém é brutal, quando não intervém é omissa.

Abraço
Marcos Santos said…
É exatamente isso, Joshua. Mas no caso do seqüestro de Santo André, o que motivou a passividade da polícia paulista, foi justamente a presença ostensiva da mídia. Se não houvessem câmeras, a atitude seria diferente e o saldo provavelmente seria de três mortos. Alguns membros da nossa polícia, adoram câmeras exclusivas para a Rede Globo. Isso talvez explique o excessivo tempo de espera. Afinal, quanto maior o tempo do seqüestro, maior o tempo de exposição na TV.
joshua said…
Compreendo então, Marcos, que a longa exposição nos Media por parte das polícias determina que as vítimas na verdade passem para terceiro plano e e em primeiro plano fica a tentativa de as polícias cavalgarem a imagem/ bancarem de heróis ponderadíssimos, expondo longamente em entrevistas sanguessugas o que fizeram, farão ou poderão fazer, cumpre um papel de lavem pública e publicidade grátis.
Marcos Santos said…
Fechamos no foco!

Esse papo já vale um post.

Abraços
Cheguei atrasa... vocês já desvendaram todo o caso, mas não posso deixar de registrar minha tristeza e indignação com esse desfecho trágico e lamentável.
Sei muito bem como a polícia aqui age, e o que é jogado para mídia, não é de fato o que ocorre. São mal preparados, desorgarnizados, fazem péssimo uso do equipamento público e mesmo assim querem sair como heróis e justos nessas histórias.
Estamos a deriva, socorro!!!!!
joshua said…
Concordo, Marcos, com a vantagem acrescida de ter tido no processo máximo prazer.

Denise, converso com a minha esposa [ela é pernambucana] sobre o outro mundo que é aí [meu Deus, como eu amo o Brasil!!!] e ela diz, quanto a este caso, que o desfecho era previsível. Desde há muito tempo que a contemporização das polícias com criminosos, quando diante das câmeras, tem conduzido as vítimas aos piores desfechos por causa de, entre muitos erros, excesso de exposição mediática.

A certo passo, a glória fácil de aparecer nos Jornais, nas sôfregas Record e Globo, desvia-os o foco do profissionalismo de agir rapidamente.

E é, infelizmente é mesmo incompetência com todas as características e ramificações que elencas, e muito bem (má preparação, desorgarnização, péssimo uso do equipamento público.

Beijos
[Obrigado pela visita que muito aprecio!]
Anonymous said…
Raio de países de opereta onde a polícia caminha de mão dada com o crime e mais preocupada com a gestão da imagem!
joshua said…
Tarantino, numa realidade onde a novela ficcional já não arranha nem agarra a sensibilidade geral é preciso que a novela real venha ter capítulos de amor, suor e sangue todos os dias.
Anonymous said…
Vou no 4º ou 5º post e continuo a odiar os snaps. Não sei de nada destas Brasileiras...

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