RELANCES DE ESTA VIA SACRA


Desta vez, ao passar sobre aquela pequena ponte por baixo da qual
os comboios atravessam a minha terra, estava aquele tal amigo
tentado pelas garrafas de whisky nas vitrinas do meu Pingo Doce,
que retratei no emaranhado de vida subjacente à posta O Estado é um Paquiderme.
Desta vez completamente em tronco nu, ao centro de essa ponte,
encostado ao respectivo pequeno muro de protecção,
voltado para o rio de automóveis que por ali passa todo o santo dia,
incluindo afinal o meu.
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Bojudo, braços espraiados para cada banda,
mãos apoiadas no velho concreto do pequeno parapeito,
perna cruzada pelo tornozelo naquele ângulo de vinte ou quarenta graus estiloso,
traseiro encostado e sobretudo aquelas calças de grávida, bem elásticas e amplas,
bordejando-lhe o ventre gigantescamente desproporcional.
Acenei-lhe [do meu carro, que passava, aquilo parecia uma mensagem cósmica
reverberando ainda a brevidade e loucura do nosso encontro prévio].
E pensei: «O Estado é certamente um Paquiderme para comigo,
mas parecerá talvez um santo delicado
para com aquele pobre moço desaparafusado.»

Comments

Tiago R Cardoso said…
O estado é um paquiderme com todos, sem excepção... quer dizer, os amigos e conhecidos são especiais mas o cidadão é todo igual.

A pena é que alguns são calcados pelo estado e gostam, eu não e tu não, mas começa a achar que somos uma minoria.
joshua said…
Meu caro Tiago, hoje cheguei ao meu limite. Isto não se aguenta. Um homem vê-se cercado e encurralado e há coisas que perdem importância. Uma delas é continuar a viver.
Tiago R Cardoso said…
Eu era capaz de te dar duas razões para continuar e outra que em breve chegará.

parecem-me no mínimo razões para lutar.
Entiendo que suceden cosas que no puedo deducir bien, es lo que leo en tu escrito.

Gracias por pasar por mi casita.

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