O GRANDE CILINDRAMENTO SISTÉMICO DO DOCENTE
«Em 2007 reformaram-se cerca de 3300 professores.
Este ano já vamos em mais de 5000 e o ritmo parece estar a acelerar.
É só ver as longas listas do Diário da República. Os testemunhos,
chapados na imprensa, de docentes que aceitam penalizações gravosas
de 30 e 40 por cento sobre pensões de reforma para toda vida,
ao mesmo tempo que reiteram o amor a uma profissão que,
garantem, abraçaram por vocação e só abandonam por coacção,
transformam um processo de reforma num processo de excomunhão.
lkj
Um país maduro estaria hoje a reflectir aturadamente
sobre o que Fernando Savater escreveu: "A primeira credencial requerida
para se poder ensinar, formal ou informalmente e em qualquer tipo de sociedade,
é ter-se vivido: a veterania é sempre uma graduação."
A vida dos professores nas escolas tem-se vindo a transformar num inferno.
A missão dos professores, que é promover o saber e o bem colectivo,
está hoje drasticamente prejudicada por uma burocracia louca e improdutiva,
que os afoga em papéis e reuniões e os deixa sem tempo para ensinar.
lkj
A carga e a natureza do trabalho
a que se obrigam os professores são uma violentação
e um retrocesso a tempos e a processos que a simples sensatez reprova liminarmente.
Ocorre, então, a pergunta: como é possível a generalização da loucura?
A resposta radica no uso do modelo publicitário
(cortejo ridículo de 23 governantes para entregar o Magalhães
e 35 páginas de publicidade paga e redigida
sob forma de artigos são exemplos bem recentes)
e das técnicas populistas.
lkj
O Governo tem conduzido a sua campanha
de subjugação dos professores repetindo até à exaustão
os mesmos paradigmas falsos e os mesmos slogans facilmente memorizáveis
pelos justiceiros dos "privilégios" dos docentes.
As ideias (a escola a tempo inteiro, por exemplo)
são tão elementares como as que promovem os produtos de uso generalizado
(o Tide lava mais branco). Mas tal como os consumidores se tornam fiéis
ao produto cujo slogan melhor memorizam,
embora sabendo que a concorrência faz exactamente o mesmo,
assim se têm cativado apoiantes com a solução de problemas imediatos,
que nada têm a ver com o ensino.
lkj
E a dissolução sociológica dos professores pela via populista
tem procurado ainda, com êxito, identificar
e premiar uma nova vaga de servidores menores
- tiranetes deslumbrados ou adesivos - que responderam ao apelo
e massacram agora os colegas, inflados com os pequenos poderes
que o novo modelo de gestão das escolas lhes proporciona.
lkj
A experiência mostrou-me que o problema do ensino
é demasiado sério e vital para o abandonarmos ao livre arbítrio dos políticos.
"Bolonha", a que este Governo aderiu, ou a flexibilização das formações,
que este Governo promoveu através do escândalo das "novas oportunidades",
não se afastam, nos objectivos, dos tempos da submissão
ao evangelho marxista, ou seja, os interesses das crianças e dos jovens
cedem ante a ideologia dominante e o resto só conta
na medida em que seja eleitoralmente gratificante.
ljl
Assim, contra a instauração de um regime de burocracia e terror,
para salvaguardar a sanidade mental e intelectual dos professores,
encaro o protesto e a resistência como um exercício
a que ninguém tem actualmente o direito de se furtar.»
lkj
Comments
Presumo que não, mas contigo nunca sabemos as coordenadas que te movem.
Por isso, presumirei que sim, que consideras que o teor daquele escrito é populista e, consequentemente, demagógico.
Não é. Laboras em erro.
Primeiro porque concedi e reconheci que a ministra, Maria de Lurdes Rodrigues, teve entradas de leão e vai sair à sendeiro.
Parecia assumir-se como uma verdadeira reformista e, afinal, sai-se como um sustentáculo de Margaridas Moreiras por este país fora.
De qualquer modo, o escrito também nasceu motivado por um outro (valha-nos ao menos isto que andamos a ler e a replicar uns aos outros) onde, aí sim, campeavam meias verdades e alguma má-educação.
O que eu gostava, especialmente vindo de ti, é que tivesses respondido com análise feita saber, escorreita sobre aquilo que realmente se passa e o que se questionava ali.
E que era, como sabes, porque leste, qual a quota parte de responsabilidade dos professores, dos pais, dos alunos e dos sindicatos no estado calamitoso da Educação?
A isso ninguém quis responder ou dar achegas.
Mas a via populista foi a que eu segui!
Então, meu caro, vamos a um exemplo concreto para que se percebam algumas coisas e se veja que é todo o sistema que funciona mal e desde o José Hermano Saraiva a ministro da Educação ...
Conheço um cavalheiro, que não vale a pena nomear, que durante seis anos esteve requisitado ao Ministério da Educação para ser Adjunto de um Presidente da Câmara.
No fim do ciclo da requisição, regressou à escola mas manteve a ligação à Câmara Municipal através de uma avença.
Acumulava sem autorização legal.
Porque lhe era conveniente e o Estatuto da Carreira Docente o permitia, meteu-se a fazer um mestrado graças a um protocolo entre a Câmara Municipal e a Universidade do Minho e que lhe permitiu contornar a ausência de média, entre outros atributos.
Assevero que mais de metade do seu trabalho de mestrado e da sua dissertação foi feito por outra pessoa.
No entanto, o mestrado permitiu-lhe subir não sei quantos degraus e atingir o penúltimo escalão.
Infelizmente, o nosso docente veio a ter uma complicação de saúde relativamente grave e, graças a ela, conseguiu redução substancial do horário por razões ponderosas de saúde.
Estranho, contudo, é que as tais razões ponderosas de saúde o não impeçam de ser Administrador-Delegado a tempo quase inteiro de uma Associação de Desenvolvimento Regional.
E, convenientemente, porque entretanto a sua cônjuge constituiu uma sociedade comercial (mais outra docente) que trabalha e presta serviço àquela associação de que é administrador-delegado e ele próprio constituiu uma cooperativa na área da solidariedade social que é uma máquina de fazer dinheiro, passou a dar aulas nas NOVAS OPORTUNIDADES e aos EFA à noite!
Este é um mau exemplo dos muitos (mas mesmo muitos) que abundam na dita Escola Incluisva e aos quais urgia por cobro.
Mas, isto, meu caro Joshua, é tudo lícito, honesto e intocável seja pela Maria de Lurdes Rodrigues seja por quem for.
E o populista e demagogo sou eu!
Mas é como te digo. Num momento em que desdemonizas a Ministra, ápice de toda uma política penalizadoramente revolucionária, compreessiva do múnus originário do docente, para lhe dares a ela o estatuto de par inter pares e não de prima inter pares, a realidade mostra que o desequilíbro já está no terreno, isto é, as lógicas de força actuais provam à saciedade que é o Ministério quem dá todas as cartas e que por isso mesmo tem maiores responsabilidades que os demais agentes.
Atomista e disperso, o movimento de professores parte tarde demais para uma reacção concertada e orgânica porque só o faz já depois de bem dividido no seu cerne.
Serve isto para dizer que se o poder serve para alguma coisa, não deveria servir para o ajuste de contas brutal com a classe que esta legislatura tem patrocinado com a máxim celeridade e ferocidade. O argumento da força serviu apenas, como me reforçou uma amiga militante do PS mas muito crítica de este Ministério, para destruir [e indirectamente destituir] do Ensino gente calaceira e desviada do escopo essencial da educação, mas para destruir e destituir também e perigosamente gente de trabalho e saber, de qualidades humanas transmissíveis e exemplificáveis, que tinha consolidadas todas as experiências benéficas que permitem O Futuro e que simplesmente não são maquiavélicas nem desalmadas o suficiente para tolerarem este regime de vigilância opressiva e grosseira instaurado em qualquer quadrante do sistema educativo, passível de operar quantas mal-feitorias há.
A história do professor pífio que narras é exemplar na sem-vergonha e dizes bem que nada disto foi afrontado por quem de direito, o que não se admite. Agora pensa que, aliado à não resolução e punição de esse tipo de despudor temos o encorajamento da debandada prematura do Ensino de seres humanos demasiado valiosos na mediação dos saberes e dos afectos para se deixarem reduzir ao estatuto de burocratas arredados dos seus alunos e enredados na mais ridícula burocracia.
É aí que falha todo este processo. Provavelmente, se dentro de tanta força para mudar e revolucionar culturalmente a Escola os professores fossem ouvidos e levados em conta em vez de comprimidos por factos consumados, iniciativas legais sem discussão e enriquecimento de contributos, talvez se progredisse lentamente, mas certamente com solidez e sem uma contestação tão massiva e por isso mesmo justificada pois não é possível estar tanta gente completamente errada ao mesmo tempo.
Isto tudo, estes processos sornas do Ministério, podem no fundo resumir-se e ilustrar-se com a tentativa de inclusão no presente OGE de um articulado novo, habilidoso e omisso sobre o financiamento dos partidos que permitiria a circulação de dinheiro vivo e a transformação de património doado e vendido em financiamento partidário. Se a coisa passasse, passava sem ser notada. Se não passasse sem ser notada, recuar-se-ia e corrigir-se-ia o 'erro'. Por outras palavras, roça-se por demais o mafioso e o habilidoso em coisas muito sérias o que nos merece um repúdio profundo. Isto não são formas de proceder dentro de uma democracia moderna. Uma democracia moderna acolhe contributos venham eles de onde vierem porque são racionais, benéficos. O modo de os partidos políticos se digladiarem em Portugal é profundamente reles e anacrónico, nada construtivo, nada recomendável e representou atraso após atraso.
Enfim, ao contrário de ti e de quem, como tu, possa ter o dom de elencar o rosário de responsabilidades e erros em todas as partes na Educação em Portugal, atribuo ao voluntarismo unilateralista da política de este Governo, incorporado por Maria de Lurdes Rodrigues, o grosso das responsabilidades pelo facto de este processo não se ter transformado em algo de transversal, consensual, trabalhado, querido e negociado amplamente, mas não passar de um arrazoado de mudanças trapalhonas, atabalhoadas, trucidatórias das pessoas concretas no terreno, desperdiçadoras da água suja do banho, do sabão do banho, do menino do banho, e da banheira de plástico do menino do banho. Foi tudo para o caralho, infelizmente. Eu também fui para o caralho porque há doze, como outros há vinte e cinco anos no sistema da precaridade, sem qualquer necessidade somos colocados por um mês a substituir colegas grávidos e em escolas, e isto é que é absurdo e naturalmenet maquiavélico, que disponibilizam posteriormente horários reduzidos após horários reduzidos a sucessivos professores provisórios sucessivamente ali colocados no mesmo Grupo e que vão igualmente ali padecer a mesma humilhação provisória de apascentarem horários de doze, quinze horas. Com isto logra este inépto ministério de humilhar de uma só cajadada três professores que desaparecem das ementas restritivas do Institutos do Emprego e da Segurança Social, em vez de promoverem estabilidade e trabalho a um ser humano. Este paradigma é inteligente para os números, mas estúpido para a gestão dos activos humanos.
Só para te dar dois exemplos vividos de perto: tenho, além das mortes noticiadas nos Media durante o passado ano lectivo devido a zelo excessivo das Juntas Médicas, a notícia de muitos problemas equivalentes e de outras mortes em docentes que acomodaram um estresse incomportável ao perceberem o agudizar de uma pressão multilateral na Escola. Chocou-me a narrativa de um docente que teve um AVC e morreu a caminho do trabalho.
Tarantino, a Escola social, humana e laboralmente nunca foi tão inóspita e tão estupidificada. Vale a liberdade espiritual e cultural e a liderança decente que muitos professores imprimem nas suas aulas.
Não sei o que ganha o Ministério em trazer em terror e em sofrimento moral gente tão humana e passível de erro como todos os demais e que se sente injustiçada por grosso.
E trazes à colação outras bem importantes.
Se reparares, eu não desresponsabilizo Maria de Lurdes Rodrigues, apenas quis perguntar (e pelos vistos com fracos resultados tal a parcimónia de comentários que isto motivou, especialmente daqueles que, contrariamente a ti, são profissionais de deitar abaixo por deitar abaixo) se não havia mais quem?
Obviamente que as responsabilidades maiores cabem, por inteiro, a quem manda, mas que diabo ...
Lamento verdadeiramente que a ousadia dela tenha sido completamente obtusa e estupidificada pela massificação, aliás coisa em que este Governo é pródigo!
Toma a árvore pela floresta e quem quiser que se desunhe!
Tivessem eles mandado para fora do sistema as nulidades e os parasitas e, quem sabe, tu não estarias na rua.
Mas não. Optaram por bater a torto e a eito. Parecem os tipos da polícia de choque.
Cmo bem sabes, não gosto é de ver moralistas armados em paladinos dos fracos mas que no fundo só andam ou a armar a confusão ou a zelar pelos próprios interesses!
Venham daí esses ossos, meu caro ... pois entre nós não há Mria de Lurdes Rodrigues que se interponha. Uma "Eugénio de Almeida" vá que não vá ...
Não te conheço, apanhei a conversa a meio, mas não gostei...
Oxalá voltemos a falar...
Presumo que tenha lido tudo o que escrevi e se estiver de boa fé, haverá de conceder que não faço defesa nenhuma da Maria de Lurdes Rodrigues.
Só não gosto é de ver, e tenho esse direito, dizer que só com ela é que existem problemas na Educação.
Aliás, se me leu, é por existirem professores como aquele que eu conheço que o REX não cabe no sistema.
E, pelos vistos, você.
Mas eu de si como nada sei, vou só presumir que seja bom docente!
Quanto ao epiteto de " ... a esse Ferreira-Pinto", não carece de comentário.
E também não tenho pretensões nem veleidades a passar a coisa alguma no domínio dos galináceos. Nem sob a capa velada da ameaça ...
Eu sou lateralmente, porque sempre fui "contratado" e nunca "colega" (esta espero que já não exista) e agora como pai.
E, como diz e eu escrevi no meu blogue, sendo-se radical quase se pode dizer que não há Educação em Portugal. Há assim uma coisa ... feita de Lurdes, Margaridas, Nogueiras, maus professores, péssimos pais, alunos sem instrução ou educação e onde os que são bons e gostam do que fazem se vêm nas horas para não submergir!
Tenho que ir visitar o teu blogue, a bodega do tempo é que me foge sempre, tenho dois filhos pequenos, 7 e 8 quase nove, sorvem-me o tempo todo... e eu quero ser o melhor possível na sua educação, por isso tenho que estar lá... É extenuante, sempre lidei com alunos muito mais velhos e não tenho nem prática nem jeito para estas idades... Hoje fui com eles visitar a quinta da regaleira, em Sintra, e estou sem forças...
Um abraço, a próxima visita será minha no teu blogue...