NUVENS GAY NO HORIZONTE

Promete ser interessante acompanhar as peripécias da estreia próxima de um filme como "I Love You Phillip Morris", que afinal nos recordam que a América é um bicho complicado que policia todos os recantos do correcto, mesmo quando o humor os permeiam e mesmo quando o que em última análise está em causa é uma obra de arte que sensibiliza e humaniza, excêntrica que seja. Qualquer obra de arte o faz e rompe o olhar quando plebiscitada pelo bom gosto de uma massa aferidora capaz de lhe atribuir relevância estética. Afinal, é a recepção que consagra uma literatura como consagra outros tipos de texto estético, como um filme. Por mais pruridos que uma certa América alimente, a América avessa à licenciosidade explícita nos seus filmes mas que lhe explode e medra em negócios de milhões implicitamente, pouco haverá a fazer para suster a força de interesse gerada pela polémica já alimentada: «Depois de "O Segredo de Brokeback Mountain" e de "Milk", ainda há preconceito "antigay" em Hollywood? Talvez não tanto em Hollywood e nos estúdios, que deram luz verde ao filme e fizeram "I Love You Phillip Morris", mas na América dos negócios, sim. O filme com Jim Carrey, Ewan McGregor e Rodrigo Santoro está em risco de não ser distribuído nos EUA por conter uma cena de sexo que os distribuidores acham demasiado forte.»