PETIT PLURALISME HYPOCRITE

Umas das marcas nada magnânimas de esta legislatura é o desprezo absoluto pelo debate e pelo pluralismo. O debate, para o PS-Governo, não passa de um ritual vexatório e de um discurso politiqueiro. O pluralismo, para o PS-Governo, é um tédio e uma sofrível necessidade sempre por traduzir e cumprir. Na verdade, o Governo maioritário torna-se tirânico e absoluto e perde componentes verdadeiramente democráticas. As maiorias absolutas abrem apenas caminho a clientelas sôfregas e ainda mais absolutas. Na prática, os governos eleitos como maioritários em Portugal não se deixam sufragar verdadeiramente pela cidadania quotidiana e há uma percentagem de medidas e decisões que se tomam nas costas dos cidadãos, no escuro, por trás dos panos, e que envolvem enormes custos e prejuízos para o Estado. É quando se está a comprar suporte político e apoio ulterior com o dinheiro de todos. Quereremos continuar a controlar o que se gasta ilegitimamente nesse plano? A discrepância entre a posição de Sócrates e de Vital quanto ao apoio a Durão Barroso apenas reforça a falsa basculação PS-Parlamentar/Local/Estrutura e PS-Governo: quando o primeiro se submete e capitula em todas as coisas ao segundo e aparece só agora a divergir num tópico é porque há lapso, gaffe, arremedo. Estes pequenos salteadores do Poder, presididos pelo ainda primeiro-ministro, não abrem brechas ao seu cio, à sua infalibilidade e ao seu directivismo anacrónico. E não se transformarão em Obamas, assim de repente, nem se reconverterão ao pluralismo auscultatório, baseado numa tecnologia de comunicação interactiva permanente, que traveje uma política by the people, for the people, with the people, conforme inova o sr. Obama. O prazer lúbrico do Poder no sr. Sócrates é qualquer coisa de muito superior aos mínimos instintos democratizantes: «O primeiro-ministro, José Sócrates, confirmou hoje durante o debate na Assembleia da República que o Governo português apoia a candidatura de Durão Barroso a um novo mandato na presidência da Comissão Europeia, mas disse também que o cabeça de lista do PS nas eleições europeias é diferente da do Governo, que a vai respeitar, bem como às dos deputados eleitos, como aliás “fez no passado”.»

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