SOARES E DEGENERESCÊNCIA ÉTICA

Mário Soares, escreve no "Diário Económico", de hoje, 4 de Abril, 2009: «Em relação a Sócrates há uma tentativa de o difamarem sem provas, numa espécie de julgamento na praça pública, esquecendo a justiça e contra a opinião do próprio Procurador Geral da República». Não há qualquer tentativa de difamação de Sócrates, engana-se Soares. A realidade é que lhe resiste. Os factos que ele semeou é que lhe fazem frente e o confrontam. Sócrates, sim, difama com os seus comportamentos excessivos, ultra-controleiros, intimidatórios*, silenciadores*, a vida democática tal como a conhecíamos. E nisso é ímpar, inédito, inultrapassável, um caso à parte para péssimo. Por isso perigoso. Sem desapego ao Poder, sem desapego ao controlo absoluto de tudo e de todos, sem respeito pelos cidadãos, vivendo e praticando a Aparência acima da Substância, em quatro anos, só avultam vestígios de sociopatia e uma paixão frívola pelo próprio Ego, lamentamos diagnosticar. Lamentamos, mas nada nos permite, no actual estado da arte, confiar na posição ostensivamente ilibatória do PGR e da atrapalhada PGA Cândida Almeida sobre o papel do ainda PM na matéria pútrida freeportiana. E agora que até o senex Soares, ao arrepio do dia-a-dia dos factos e evidências, vem re-vitimizar Sócrates, a última das vítimas e o primeiro dos algozes, é francamente um papel inesperado para tão inflacionado 'democrata'. Na verdade, a consciência é uma coisa que também morre. Em vida.

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* É verdade, para espanto de muitos, Sócrates tinha ameaçado com processos os jornalistas que escreveram sobre o Freeport. E cumpriu. Depois das pressões ao MP, eis a pressão à imprensa. João Miguel Tavares, colunista do Diário de Notícias, foi processado pelo primeiro-ministro por ter escrito: “Ver José Sócrates apelar à moral na política é tão convincente quanto a defesa da monogamia por parte de Cicciolina”. João Miguel Tavares respondeu à altura: “Agradeço a atenção que o senhor primeiro-ministro me dedicou de que não me acho merecedor”.