IRÃO, OBAMA E OS ÚLTIMOS DIAS DA IRA
Se os olhos do mundo estão postos no Irão é, ainda assim, ou talvez por isso mesmo, de antecipar o pior. O encorajamento internacional explicito à justificadíssima insurgência interna talvez conduza ao recrudescer de todos os limites da repressão. O uso da força é já assunção de derrota, mas o preço pode ser altíssimo. Porque o pior, como já aqui se escreveu, é o risco de essa reprodução das sequelas aos acontecimentos recentes no Tibete e em Myanmar onde, por mais que o olhar condenatório e a pressão diplomática internacionais se fizessem sentir, nem assim ambos os Regimes recuaram um milímetro das consequências ulteriores para os insurgentes domésticos, a saber, severa perseguição, execução ou sumiço de activistas, esmagamento dos movimentos independentista, no Tibete, e pela Democracia, em Myanmar. As reivindicações de Moussavi e das multidões que o apoiam constituem um problema interno iraniano sobre o qual importa ousar interferir no sentido de capitalizar efeitos, levando o discurso às consequências necessárias que pelo menos envergonhe aquela Teocracia Corrupta e Odiosa. Importa também interpretar muito bem o que se passa no terreno. Expor muitos dos traços malígnos da situação intransigente dos líderes religiosos, mas depois não consentir entrar naquele silêncio diplomático sepulcral que consente e cala os abusos de poder sobre as pessoas. Repare-se neste sinais: um bombista suicida fez-se explodir perto do santuário do fundador da República Islâmica, ayatollah Ruhollah Khomeini, em Teerão. Altamente simbólico, sendo este Irão um dos grandes promotores de este tipo de martírio contra inocentes pelo mundo fora mas ao que se sabe nunca provara dos seus próprios processos. Haverá um banho de sangue?! Pode pactuar-se com quem enuncia esta ameaça?! Com Bush e com esta Europa fraca, a China e Myanmar tiveram rédea solta para cometerem os seus crimes. Não haverá uma voz unânime e ética que se levante?! Fará Obama efectivamente a diferença com a pedagogia do seu discurso de paz, reciprocidade e negociação permanente?! Se se verificarem efeitos indeléveis, uma sociedade estrangulada nos costumes e nas liberdades elementares, como a iraniana, certamente agradeceria o apoio do Mundo com o qual os seus líderes romperam há muitos anos: «O candidato derrotado nas presidenciais iranianas está “pronto para o martírio”. E pede aos milhares de apoiantes para fazerem uma greve nacional caso venha a ser detido. Mousavi não desiste de exigir a anulação das eleições enquanto a Casa Branca endurece o discurso, pedindo o fim da violência. [...] “O Governo deve perceber que todo o mundo está a observá-lo. Choraremos cada uma das vidas inocentes que se perderem”, frisou o Presidente norte-americano..»
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