MICHAEL JACKSON, O EREMITA TERMINAL
Os factos pós-autópsia que se divulgam sobre o estado geral de Michael Jackson aquando da sua morte são perturbadores. Dir-se-ia que, no seu caso, a Fama lhe devorou a carne e a sanidade com a mesma intensidade e proporcionalidade com que o seu génio artístico brilhou planetariamente. Calvo, com um peso corporal absurdamente baixo, 51 kg, e uma dieta exclusivamente pilular (Demerol, Dilaudid, Vicodin), a autópsia revela um homem desfigurado cujos vestígios remetem para os mais extremos e estritos eremitas religiosos do passado, sob cruentas mortificações corporais e prolongada privação voluntária de alimentos, no intuito de afirmar algo ao mundo ou para exemplificar uma heróica e desproporcionada penitência. Acima de tudo fica patente em Jackson um misto de Dor e Doentio habitando um filamento de ser na sua ténue fronteira ao comum dos mortais. Anorexia? Há muito que Jackson trilhava um caminho mortífero inexorável contra o qual nem a sua família pôde lutar com todas as forças e com todos os meios. Pelo contrário, percebe-se a imensa e agónica solidão em que submergiu para sofrer um desfecho tão cru como aquele.
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