LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA NA OIT

Por vezes, tomam conta de certos países mais ingénuos e desprevenidos, assumindo risonhamente a governação, um tipo de políticos que não se pode caracterizar como servidores genuínos dos seus povos, mas antes licitadores e trinchadores deles. Licitam a quem der mais, ainda que disso resultem massas de desempregados e se desencadeiem rupturas nos equilíbrios sociais. Portugal foi vítima de uma casta de políticos de essa natureza. Já de Lula pode dizer-se o que se quiser, mas não se pode dizer que não tenha havido nele um mínimo de preocupação com os mais pobres dos pobres da sociedade brasileira. Uma sociedade complexa como a brasileira precisa do concurso de todos para operar a transformações sociais profundas e não é fácil fazer um juízo definitivo sobre o consulado de Lula que de repente rasure um paradigma de décadas de uma espécie de auto-colonialismo prático por parte das suas elites. As anedotas naturais apoucadoras dos portugueses e os pequenos comerciantes brasileiros com a cultura do ressentimento pelo colonizador, civilizador, descobridor português é o sedimento dominante que não permite um olhar puro sobre o presente e sobre o papel liderante ou omisso de gerações de privilegiados no Brasil muito após os gritos independentistas de 7 de Setembro de 1822. Mas o Brasil de Lula não pode continuar a verberar os Paraísos Fiscais sem simultaneamente propor alguma medida ou linha de rumo no sentido de completamente neutralizar esse princípio lesivo da cidadania global. Um mundo multipolar e interdependente não pode nem compreender nem aceitar as lógicas das offshores e o desbragamento da especulação. Chega, porém, de discursos, proponham-se linhas de rumo e actuação que extingam e neutralizem esse universo bancário marginal. E o Brasil não é um país qualquer. Já pode e deve dar o exemplo, como grande potência que é, de cortar com as retóricas bem intencionadas e levar à acção séria, concreta, concertada: «O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva exigiu hoje uma atitude “mais dura” contra os paraísos fiscais e os especuladores, ao intervir na minicimeira da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a crise do emprego.“Este momento exige das empresas, dos trabalhadores e dos governos uma atitude mais dura”, afirmou Lula perante os 183 membros da OIT. “Não nos podemos permitir viver com paraísos fiscais, não podemos continuar a viver com um sistema financeiro que especula, que vende papel sem produzir, sem produzir um único posto de trabalho, um único sapato, uma única gravata”, acrescentou o presidente brasileiro, muito aplaudido.»

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