O AZAR DE SER CRIANÇA EM PORTUGAL

Mais três crianças perecem e isto soa, mais e mais, a um padrão detestável, de ano para ano consolidado, no Portugal das novas oportunidades para mendigar migalhas e ir habitar tendas e recintos ígnios à menor faísca. Forma-se um padrão na vitimologia portuguesa que grita "injustiça!", uma injustiça baça e tácita que grassa por aí contra a grande massa dos mesmos. A percepção geral é a de que estas três mortes de crianças do Pinhal Novo são 'repetidas'. A impressão intuitiva dos portugueses é a de que estas situações trágicas são demasiado reiteradas e vêmo-las regressar ciclicamente nos mesmos números e nos mesmos sinais de negligência sistémica. Sente-se mesmo que no nosso País isto é já demasiado comum, pelas mais diversas razões, sobretudo quando as principais vítimas são crianças. Razões? Causas? A começar por uma economia organizada para penalizar as famílias com filhos, sobrecarregando-as impiedosamente; uma economia pervertida para deixar infelizes, porque mal remunerados, desempregados e longe dos seus sonhos, milhares de licenciados e outros milhares de excluídos naturais do sistema fechado ao Mérito e aberto ao Favor. A porta está aberta para todas as ocorrências que nos homologam com sociedades ainda menos zelosas que a nossa para com os seus cidadãos. O paradigma social e económico português, recentemente engendrado pela engenharia desastrada da Política Neoliberal Selvática, Desumana, da governação socratinesca, promulga precisamente a desagregação familiar por pura pressão económica e compressão social. Escandaliza o abismo entre Ricos e Pobres num País periférico entre os demais países do bem-estar europeu, mas a vergonha por isto ainda não chegou a suficiente Inferno. Teremos de esperar para ver quantas mais trapaças e desonestidades serão necessárias pelos velhos detentores do Poder Efectivo em Portugal, na sombra de velhas eminências pardas há um século a puxar os reais cordelinhos, para que o próprio Inferno transborde de nojo e faça acordar este plácido e cordeiresco Povo Português, ovelhas levadas ao matadouro de pagar a triplicar vícios reles, hábitos pulhas nos velhos detentores do Poder Efectivo em Portugal. A cultura de desprezo pelo bem-estar e felicidade das pessoas em muitas empresas e empregadores ultra-exploratórios, mesmo no Estado dos grandes esbulhos mentirosos sobre as massas de funcionários por oposição à massa de gestores e chefias intermédias por designação partidária, é tão grosseiro e insensível em Portugal que só pode desembocar no pior que se possa imaginar no médio-longo prazo. Se cada qual persistir em olhar por si avidamente, licitando sobre fatias de Portugal privatizado como coisa sua, ignorando a realidade, e se ninguém olhar pelos demais, zelosa e militantemente, reparando as carências dos mais necessitados, reabilitando-os socialmente, em poucas décadas a selva social Portuguesa far-nos-á irreconhecíveis como Povo e como Nação, faremos fronteira com o mais violento dos países sul-americanos ou centro-africanos. Pode bem ser que nem sequer os condomínios de luxo nacionais, fortalezas da excepção, frutos da grande vampiragem político-económica nacional, preservem de danos os seus intocáveis habitantes extraterrestres, esses ricos automáticos do favoritismo partidário cuja existência dourada só pode ser fruto de milhares de negligências somadas e multiplicadas. Três! Três crianças mortas e todas as mal encaminhadas nos equívocos labirínticos da Justiça nacional para falarem do crescente azar de se ser criança em Portugal e nos fazerem pensar, por muito que doa, em que raio de País queremos viver, que monturo de egoísmos e abismos de miséria quereremos viver. Valha-nos Santa Oprah e todos quantos, ricos que sejam, têm um amor que se veja à Humanidade e um sentido social e cívico que não se satisfaz com a própria opulência se ela fere a escandalosa penúria do vizinho: «Três crianças, de dois, seis e 12 anos, morreram esta manhã num incêndio que deflagrou numa habitação devoluta, situada na Avenida Gago Coutinho e Sacadura Cabral, no Pinhal Novo.»

Comments

almirante; berlengas said…
"o azar de ser cirança em Portugal"?? Que raio de titulo(!), li no público.pt. Fui ver, cai aqui,e fiquei mais descansado. Em todo o mundo morrem crianças nestas condições, mesmo nos paises mais desenvolvidos da Europa. Mas depois de ler o teu artigo, percebi: usas a tragédia dos outros para lançar criticas infundamentadas a tudo e todos. Assim não...

E com tanta escrita apenas numa manhã de 2.ª feira, não deves render muito ao país a trabalhar.

almirante, berlengas
capitão iglo said…
A tragédia dos outros é toda nossa.
Comodoro Sardinha said…
O trabalho, como o Natal, é sempre que um homem quiser e um país merecer.
Sagento Cagalhão com a mão num colhão said…
E o Almirante não deveria estar a trabalhar em vez de se entreter a comentar um raciocínio que lhe desagrada?!

E com tanta paixão a comentar apenas um texto numa manhã de 2.ª feira, o Almirante Almondegas não deve render muito ao país a trabalhar.

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