AO PADRE PERCEPTOR DE D. SEBASTIÃO

Então como agora. Repare-se na homologia de traços com os quais também se poderia pintar os tempos presentes portugueses, na carta de D. Jerónimo Osório ao Padre Perceptor de D. Sebastião, Luís Gonçalves da Câmara: «Achava-se a Nação no mais triste estado em que se ela nunca vira... o aborrecimento de El-Rei é geral em todos; o ódio aos que valem com ele é público; o murmurar é infinito... As ocasiões vão crescendo cada vez mais, e não pode a desventura chegar este termo a pior estado que suspirarem línguas, ânimos e lealdades portugueses por senhorios estrangeiros, e darem razões para lhe ser melhor servir a Castela que serem tiranizados dos naturais; proferindo alto que pouco vai de dizer-se beijo as mãos a Vossa Mercê e beso las manos a Vuestra Merced... Somente lembro a Vossa Reverência e ao senhor Martim Gonçalves, seu irmão, hajam de sustentar esta grandeza em que os pôs a Fortuna (como o mundo cuida) ou o bem comum (como Vossas Mercês dizem): pois nunca vi maior esquecimento que tratarem as coisas como se nunca trataram, e fazerem a si e à pessoa de um Rei de dezassete anos (que naturalmente é amável) os mais aborrecidos, os mais odiosos que nunca houve em Portugal, antes e depois de D. Pedro o cru; em tanto que a gente de todolos estados e qualidades fala sem medo, e juram os portugueses que tomaram antes ser governados por dois turcos que os tratassem com amor e prudência, que do modo que agora são; que nenhum mal tamanho podia vir a este Reino nem à pessoa própria de el-Rei (que Nosso Senhor guarde!) que não houvessem por grandíssima dita, se com isto se houvessem de ver livres do estado em que se vêem... tamanha desconsolação da terra, tamanha inquietação da nobreza, tamanho ódio dos particulares ao governo!... e fica a gente coligindo de aqui que os que andam a par de el-Rei querem introduzir na Terra um novo governo absoluto e quase tirânico... Não fora mais siso não assombrar a Terra com rigores, antes ir pouco a pouco, e não dar a entender à gente que não tinha Rei para mais que para executar o furor, ou os ódios, ou os intentos, dos que andam após ele, e que não houvesse muita ocasião para se dizer que era isso mais conjuração que reformação?... o fruto disto é tamanho ódio a seu Príncipe e tão geral desconsolação... Aventure-se o senhor seu irmão a valer menos, e a consentir que el-Rei lance mão de outra gente...» (Cartas Portuguesas, V., pp. 21 e seg.)
Comments
(Eduarda Dionísio):
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Meu comment -- para Joaquim da Alma Mater --- e para post SEBASTIÃO REX -- vai em dois poeminhas das minhas Sonhadas Palavras...
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1)
Ínclito demandante do Graal,
quando voltarão - pó, revoada -
alas, e frentes - tuas hostes?
De um antiquíssimo subterrâneo,
sonho névoa manhã, reergas -
uno e muitos - O Portugal.
2)
‘Maravilha fatal da nossa Idade,
irrompas, cavaleiro…’
Verdes ilusões
à peleja única arrebates.
Conquiste-se-te o Orbe
a nova hora havido:
A ti se obrigue
a submetido íntimo.
Cada teu infante
firmemente motive
sobre-humana simplesa;
o Império Quinto já tremeluzindo,
elucubre português o Oriente da Vida!