MARIA JOÃO PIRES, A BRASILEIRA

O comparativamente escasso ou comparativamente nulo investimento na Cultura de que Sócrates se 'penitenciou' por penitenciar em fim de mandato tem consequências como esta: o abalançar definitivo de Maria João Pires para a pátria da Língua Portuguesa sob os direitos e deveres da cidadania brasileira. Ganha o Brasil. Perde Portugal. E a hemorragia vai longa. Pode discutir-se a idiossincrasia especiosa da artista, mas um artista é um artista. Ou se aceita o João César Monteiro («Não se nasce português, fica-se português...», in Vai e Vem, 2003) e o Luiz Pacheco excêntricos que habitam nessas almas ou todos perdemos de uma forma ou de outra. Escritores, artistas, intelectuais que os governos portugueses se habituaram a desprezar activamente são, na verdade, investimentos de futuro sistematicamente perdidos e estragados. Goste-se dele ou não, Saramago é um bom exemplo de uma zanga com algum sentido. As gravações, os objectos e a memória dos mais excelentes, como Maria João Pires, constituem activos incalculáveis pelos séculos portugueses do porvir. Sistematicamente, os sucessivos governos de Portugal fazem sofrer os seus melhores ou com preconceito ou com actos de uma enorme cegueira despreziva. Ora, do que os governos portugueses se mostram incapazes para com os seus ilustres das artes e do virtuosismo enquanto vivos, como Jorge de Sena cujos ossos só agora descansarão na sua ingrata e não-ditosa pátria amada, outros governos do Mundo se mostrarão bem capazes porque nestas coisas a sensibilidade, o afecto e a lucidez contam muito. E, ao que parece, falho de tudo o que é razoável e humano, este Governo, inflado da grande Soberba de um só homem, também se mostrou imensamente falho em sensibilidade. Não faltarão insultos rascas a este gesto da pianista, porém, como se compreende! Como se compreende na sua luminosa naturalidade magoada!: «A pianista Maria João Pires vai renunciar à nacionalidade portuguesa, tornando-se aos 65 anos cidadã brasileira. A notícia é avançada pela Antena 2 da RDP, que adianta que a pianista se fartou “dos coices e pontapés que tem recebido do Governo português".»

Comments

Anonymous said…
Quantos milhões de Portugueses foram forçados ao longo de Séculos a renunciar à nacionalidade portuguesa por serem maltratados no seu próprio País?A sangria continua e a vergonha de ser Português aumenta com a fotografia do Cornudo Pinho a correr Mundo.O Estado Português e todos o parasitas,uma verdadeira casta à Indiana,que exploram Portugal e os Portugueses,são os maiores inimigos de Portugal.Um Estado que brinca com a nacionalidade importando por exemplo jogadores brasileiros para a selecção dando-lhes a nacionalidade e que esbanja milhares de milhões em toda a espécie de inutilidades desde os "cagalhães" aos estádios de futebol enriquecendo pelo caminho toda a espécie de políticos corruptos.Maria João Pires tem a minha incondicional solidariedade.É o único musico português que tem uma verdadeira dimensão internacional.Como tal não precisa dos subsídios do miserável Estado português para viver.Bastam-lhe os seus direitos e concertos.Foi perseguida pelo poder Sócretino porque não se vergou e aceitou ser um instrumento dócil da propaganda do Grande Líder.Como sucedeu a tantos milhares de Portugueses.O projecto de Belgais foi afundado utilizando todas as técnicas da perseguição de Estado por não ser uma iniciativa controlada pelo PS Sócretino,como sucedeu com tantas e tantas organizações portuguesas.Basta lembrar a TVI,Moniz e MMG.Quando se condecoram tantas ilustre mediocridades no 10 de Junho,ficaria bem ao PR e a MFL uma palavra de conforto e solidariedade a uma das maiores Portuguesas vivas.E acabem por favor com o "nacionalismo pimba" próprio de atrasados mentais.

Popular Posts