VOO IY-626 — BAYA BAKARI


Com tão raros milagres ou acasos felizes nos acidentes aéreos, como o da sobrevivente Baya Bakari, parece mesquinho relevar outra coisa qualquer. Nem tudo se resume aos argumentos tirados-do-cu-com-um-gancho que permitem inventar a acusação (que só pode ser jocosa para não passar por intelectualmente desonesta!) de ter havido qualquer espécie de diferenciação racística de tratamento entre os mais recentes acidentes aéreos, diferenciação reveladora e denunciadora da 'nossa' hipocrisia. Essa tese afirma que, por exemplo, o acidente da Air France foi coberto de modo exaustivo por jornais e blogues nacionais e ocidentais e que este, da Yemenia — Yemen Airways الخطوط الجوية اليمنية‎, não o foi do mesmo modo, bem pelo contrário. Enfim, concordando que ocorreu uma diferenciação de tratamento noticioso e comentarístico, parece notório que ela não se deu por razões de raça, mas de contexto geográfico e cultural. Afinidades culturais e nacionais não se discutem assim como a demanda dos públicos por informação a qual flutua em função de nada mais que de essa imensa ou escassa afinidade. As razões do acidente de mais um Airbus, matéria agora de importância maior, essas dizem-nos respeito a todos os que viajamos ou pretendemos viajar de avião. Releve-se, portanto, o milagre de Baya Bakari e aguarde-se pelo escrutínio das caixas negras já recuperadas sem precoceitos nem acusações artificiais à intensidade de cobertura mediática de acidentes aéreos: «Janeiro de 1985. Um rapaz de 17 anos é encontrado com vida entre os destroços da queda de avião da Galaxy Airlines, no Nevada, EUA. Agosto de 1987. Uma menina de quatro anos é a única sobrevivente da queda de um avião em Detroit. Março de 1995. Uma rapariga de 9 anos é a única sobrevivente da queda de um avião da Intercontinental que se despenha na Colômbia. Setembro de 1997. Um bebé com apenas um ano é o único sobrevivente da queda de um Tupolev da Vietnam Airlines no Cambodja. No dia 29, o milagre voltou a acontecer. Morreram 151 pessoas num voo da Yemenia Airlines a caminho das ilhas Comores. Só uma adolescente de 14 anos sobreviveu, mergulhada num mar de destroços e de forte ondulação, no negro da noite, em pleno oceano Índico. Chama-se Baya Bakari. Baya significa esperança.»

Comments

Carlos Portugal said…
Caro Joshua:

Transcrevo-lhe a seguir um artigo aparecido hoje no Portugal Diário, acerca do Voo 447, que indicia aquilo que eu já suspeitava: falha total da aviónica do Airbus, e não a alegada «desintegração» por ir com «demasiada velocidade numa zona de turbulência» (um piloto experiente sabe «sentir» o avião, mesmo com os tubos de pitot avariados).

Se calhar é por isso que há tanta hesitação em recolher as caixas negras...

Quanto ao voo da Yemen Airways, o meu Caro tem toda a razão no postal.

Abraço.
Carlos Portugal said…
Desculpe, eis o artigo:

«Voo 447: avião caiu intacto no oceano
Relatório indica que caiu na vertical e a alta velocidade
Por: Redacção

O Airbus A330 que caiu na noite de 31 de Maio no oceano Atlântico não se partiu no ar, tendo caído de forma vertical na água, de acordo com um relatório preliminar do BEA (Escritório francês de Investigação e Análise) divulgado esta quinta-feira.

O aparelho fazia a rota Rio de Janeiro-Paris e transportava 228 pessoas de 32 nacionalidades.
De acordo com o que noticia o jornal «Folha Online», o avião caiu na água intacto e com muita velocidade. «O avião não foi destruído em voo», afirmou Alain Bouillard, do BEA.

Segundo a mesma fonte, os coletes salva-vidas encontrados entre os destroços não estavam accionados.
As caixas negras ainda não foram encontradas. O equipamento emite sinal por cerca de 30 dias depois da queda, prazo que já terminou há dois dias. Mesmo assim, os investigadores franceses acreditam que o aparelho possa funcionar por mais tempo.
As buscas vão continuar até dia 10 de Julho, de acordo com o que afirma Boullidard.

As investigações do BEA basearam-se, então, nas mensagens automáticas enviadas pelo avião minutos antes de o mesmo ter perdido contacto e nas análises feitas aos destroços e aos 51 corpos de passageiros resgatados. »

Abraço
manuel gouveia said…
É curioso que esta tua referência ao caso do avião cheio de pretos, só aconteça na sequência do meu post.

Pelos vistos não existe grande diferença entre o que te sai pela cabeça do que te sai pelo cu. Não é racista quem quer mas quem se comporta como tu.
joshua said…
Porquê, Manuel? Não estás a ser nada cristão.

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