AINDA A SOARESIANA MAGNA VERGONHA
1.º Governo Constitucional, 23 de Julho de 1976 |
«A segunda vergonha nacional traduz-se na já consabida propensão do dr. Mário Soares para a obscenidade política. Já andou por aí a citar Afonso Costa e o cadafalso de Luís de XVI. Um dia destes ainda se põe a citar outros crimes de sangue políticos, provavelmente louvando-se nos exemplos edificantes da Carbonária e da Formiga Banca. O dr. Soares sente que atingiu um limiar de impunidade que não vale a pena discutir, para não se cair eventualmente em teorias da inimputabilidade. Esse é um problema dele. Mas também é nosso, não pelas camarilhas de vária e oposta ordem e sinal político que congrega, ou diz congregar em seu redor, mas por se tratar de um ex-presidente da República a quem não ficava mal um pouco mais de compostura.
Não me faz impressão nenhuma que uma aula magna inteira vocifere em coro com ele. Podia ser até um estádio de futebol. O que me faz a maior das impressões é que alguém, que foi presidente da República Portuguesa ainda não há muitos anos, salte para a ribalta nos termos destemperados em que o fez. Mais nenhum ex-presidente da República, mesmo que com críticas pontuais ao actual, se achou justificado para fazê-lo. Tratou-se de uma tentativa insensata de manipulação das massas: não há nenhum mecanismo constitucional que permita a destituição pretendida - logo, não é em nome do Estado de direito, nem da legitimidade constitucional, mas da barafunda revolucionária que o dr. Soares e alguns apaniguados pretendem falar.
Outro ex-presidente da República, o general Ramalho Eanes, aliás objecto de justíssima homenagem no dia 25, pôs, com a sua sobriedade habitual, os pontos nos ii: "O actual Presidente da República tem dirigido ao País mensagens de estímulo correctas, é através de um consenso sobre a reforma do Estado e a modernização que o País pode assentar em alicerces sólidos." E acrescenta: "O Presidente tem tido uma atitude proactiva nos apelos que faz à sociedade, como ocorreu no Verão passado." (Público de 24-11-2013). A verdade é que, em nenhum momento do seu mandato, Cavaco Silva deixou de cumprir ou violou a Constituição. Toda a gente o sabe. O que é deveras deprimente, não é que a esquerda finja ignorá-lo, é que o dr. Soares a acompanhe nessa vergonhosa ficção.»
Vasco Graça Moura
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