ESQUERDOFAGIA

Toda a gente repara nela, na esquerdofagia da extrema-esquerda, e diz a mesma coisa. A verdade é que, sobretudo quando nada temos a ver com aquilo, à menor emissão de uma opinião externa, sofrem-se horrores sob um tal Tufão Esquerdofágico, desses a que se reporta o post de FNV e a que me reportei eu: percebem-se no ar fúrias, retaliações, amuos, castigos, a vontade perpétua de tirar de esforço, um sentimento íntimo de traição, de ter bulido onde era proibido bulir. O transbordar imperdoável do copo. Ninguém, nenhum esquerdo-cunhalista, parece perdoar, quanto mais consentir, a fraqueza da franqueza e a menor ousadia de autenticidade intramuros e extramuros. Tudo, mesmo um pentelho de qualquer coisa, assume foros de «gravíssimo» e um blogue passa à categoria do sagrado. E depois, ou purgam o prevaricador opinativo ou exigem que se purgue a si mesmo, num penoso, artificial-forçado, exercício de hipocrisia. O que é intemporal, Filipe, são mesmo essas velhas expurgações, não de erros nem de excessos, mas de gente e do que realmente pense, já que não se pode unanimizá-las numa pasteurização ideológica contra a própria vontade. E, no entanto, podemos amá-los na mesma, tão paroquiais e exemplares no seu sentido solidário em relação às massas exploradas e humilhadas pelo Capital. Amá-los porque se sentem, apesar de ateus, muito mais cristãos que os cristãos.

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