NÓS SOFREMOS, O PAÍS AVANÇA

Há muito que no meu espírito se sedimentava a certeza de um País repleto de infraestruturas, mas irrevogavelmente pobre nas pessoas, nos rendimentos, um País em que a riqueza ficaria lá, na grande barragem monopolista e apropriacionista das famílias habituais, a acumular desde há décadas. 

Não misturarei, porém, departamentos: o que é bom para Portugal, há-de ser bom para mim e para a maioria, senão já no bolso, no orgulho, e um dia em ambos. E é bom saber da redução da taxa de desemprego de 16,4% para 15,6% no terceiro trimestre deste ano; é bom saber que os juros da dívida pública portuguesa a dez anos no mercado secundário já está nos 5,82%; é bom saber que as exportações portuguesas em Setembro tiveram segunda maior subida do ano e que a a actual espiral crescimentista da economia portuguesa é já de 0,3. Que bom ter razões para festejar e razões para esmagar o argumentário catastrofista dos vendedores de tragédia e asseguradores de desgraça. Muito bom.

É tudo muito bom, mas eu não sinto nada. Ninguém aqui em casa sente. Comer já é um problema há dois anos, quanto mais vestir e o resto. Com as famílias esmagadas e sem dinheiro para mandar cantar um cego, a consolação de um País finalmente nos trilhos, a crescer e a viver do que vende, ainda não nos consola directamente a nós, pessoas comuns, cidadãos concretos. Algum dia consolará? Talvez. 

Daqui a dez anos.

Comments

Anonymous said…
O importante, Senhor Joaquim Carlos, não é saber que aumentaram 0,3%; o importante é saber-se qual foi o ganho de riqueza para o País.Repare que, por exemplo, se esse aumento insignificante foi à custa dos combustíveis ou das fábricas estrangeiras que cá labutam, ainda ficamos pior, pois o aumento pode significar diminuição...Esteja atento!Cumprimentos

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