BOLHÃO E A APOTEOSE PATETA
O Porto, minha cidade, conserva ainda traços vincados do velho caciquismo de há mais de cem anos, quando o rotativismo bipartidário, sob uma Monarquia periclitante, ia a um certo tipo de votos e tinha os seus delegados locais de interesses que arrastavam, sob promessas ou paleio de embair, homens demasiado reverentes para o voto na facção pretendida. Hoje, sentido crítico zero, há ainda nestas gentes autênticas alguma propensão natural para aparentemente serem levadas a uma dada pastagem política. O PS local tem pastores que conduzem o seu gado para as manifestações aclamativas que importa simular como tais, manifestações e aclamativas. Em todo o caso, mora aqui um Povo autêntico. Condescende evangelicamente com malfeitores, quando lhes aparecem humanados pela frente. Sócrates, por exemplo, bem pode ser abraçado, apalpado e beijado pela baba do Bolhão, olhos nos olhos, que logo a seguir lhe rezam impropérios entredentes pelas costas. É um povo capaz de um zelo apaixonado por um marreco qualquer, instinto primário anteposto à Razão. Caso sinta compaixão por alguém, mereça-a ou não, para esta gente não há crime nem erro que não mereçam a devida e incarnada atenuante. Por isso não suportou um 2.º Auto de Fé ao passo que Lisboa adorava o churrasco religioso que se eternizou por longas décadas de acabrunhamento e bufaria. É com esses e para esses espécimens (primários, instintivos, compassivos) da minha gente que Elisa Ferreira fala, obviamente, com o nulo respeito que tais inteligências sensoriais lhe merecem. Ora, o espectáculo ilusionista do PS está na rua e o Bolhão presta-se bem de mais ao seu folclore superficial e pseudo-apoteótico. Portugal recua em todos os parâmetros económicos? Não se fala ou menciona o que importa e deveria preocupar-nos tremendamente? Não importa. Arraial é arraial. Esta legislatura habituou-se a maquilhar números, multidões, sondagens, realidades gritantes? Não importa. Haja festa! No Bolhão ou há pau ou há baile. O show falsário PS tem aí, no Bolhão, a festa efémera de que necessita para fingir suporte popular. A 'democracia' mal respira sob a asma ambiental implementada pela novidade do Medo sob o consulado PS? Os portugueses sucumbem aos impostos impiedosos e à apreensão pelo futuro? Não importa. Faz-se o jeito. Vital espelha desassossego. Vítreo, um suor frio banha-lhe a face e as fontes logo abaixo da célebre guedelha grisalha, durante os cuspilhantes discursos desastrosos. Electrifica-se-lhe a trunfa perante o espectro mais que certo de uma derrota humilhante, dia sete, em terceiro lugar logo a seguir ao BE. Todos sentem que apoteoses artificiais e antecipadas, como a do Bolhão, são já o Canto do Cisne da Campanha mais trauliteira de um partido em 35 anos: aguarda-se pois que o blogger Vital do duplo-pensar, elevado como um bónus a Cabeça de Lista do PS, escolhido dentre os mais servis da agremiação de interesses enclavinhados PS, o mais língua de pau entre os língua de pau da Situação, fique por causa dos resultados 'com uma cabeça'. Isto é justo e segue já no dia sete: «A distrital do Porto do PS, presidida por Renato Sampaio, não deixou os seus créditos por mãos alheias e mobilizou o partido para a calorosa recepção que o secretário-geral do PS teve quando entrou no mercado, pela Rua Formosa. Aí era aguardado por um conjunto de figuras do partido, desde autarcas, ex-autarcas, deputados, ex-deputados e muitos militantes. À saída, muita gente aguardava pelo secretário-geral do PS na outra entrada do mercado, na Rua Fernandes Tomás. Pousou para as máquinas fotográficas com pessoas anónimas, autografou t-shirts do PS e continuou a dar beijos e abraços.»

Comments
Estas fantasias são bocejantes.
Dia sete ganha a abstenção - e como não haveria de ser?!
Com o desenvolver da campanha só se martirizam os votantes.
E o Bolhão..., o Bolhão é uma sombra, um resquício, uma lágrima furtiva.
Almas encardidas como paredes por caiar. Sons passadistas. Notícias de finados. Pouco mais.
Ainda parece imponente nos primeiros dez metros, depois, nada.
Há pombos a arrulhar nos destroços e restos de festas fingidas. Como esta.
Passem todos, não voltem mais.
As gentes espantam-se, como os pombos e os pardais.
O que está a dar é bombos e gaitas.
Estas orquestrações de palhaçada já metem nojo. Conspurcam uma bela Cidade - e o País por arrasto.
Portugal, feliz ou infelizmente, tem dois tipos de gente, duas castas: a elite, que governou com a Monarquia durante mais de sete séculos com o brilhantismo que ficou para a História, e os socretinos de sempre, corruptos, mesquinhos, bajuladores, traiçoeiros. Reles, no fundo.
Só que, de há uns tempos a esta parte, essa escumalha, que quando é bem dirigida anda na ordem, tomou de assalto o poder, dando toda a força ao adágio «quereis conhecer o vilão?...»
E é o que se vê. Então quando se sentem acossados, como agora, à beira de uma catástrofe eleitoral eminente, é um fartote. Resta o perigo destes crápulas manipularem os resultados eleitorais. A anunciada discrepância de números entre os cadernos eleitorais e o censo é preocupante, e possivelmente prenunciadora de manobras sujas.
Um grande abraço.