JOHANNA GANTHALER, O NÃO-MISTÉRIO

História estranha? Talvez não. Apetece escrever loucamente sobre isto. Dissertar paralelamente à morte acidental, fatal, de Johanna Ganthaler, sobre o grande desaparecimento cultural da Morte, a velha Thanatos-Θάνατος. Os seres humanos, no seu egoísmo e na sua insensibilidade de viventes, comportam-se como eternos, em todo o lugar, sobretudo no Primeiro Mundo. A nossa cultura é cada vez mais Sem Morte, mas toda Pró-Morte. Somente nos últimos cento e cinquenta anos alijou-se para mais longe o espectro iminente da Morte, o grande lugar comum em todos os séculos anteriores, no Primeiro Mundo. A Morte? Pródiga para com todos, todas as idades e estados [bom, uns mais que outros, quanto mais pobres e explorados, mais pródiga] foi a grande familiar da espécie humana nos séculos passados, a grande oponente do Primeiro Mundo. Hoje é uma Estranha, uma Desconhecida, uma Caprichosa, uma Mal Compreendida e Pior Amada como se fosse malígna tragédia e não o que é: uma Porta, Portal do Perene. A combater nas suas manifestações, sinais e ameaças, mas a não resistir no seu Advento Inelutável derradeiro particularista. A Técnica, a Ciência, a Medicina, mesmo a Ideologia, as revoluções urbanas e civilizacionais, no Primeiro Mundo, salvo alguns hiatos de massiva fome, pestífera guerra, ira dos elementos, tirou a Morte da vida quotidiana das pessoas, especialmente no Primeiro Mundo. Agora pasmam com a singela e natural passagem de Johanna Ganthaler, de acidente de viação, em Kufstein, provando as consabidas estatísticas mortíferas de perigo ao nível do solo, depois de ter escapado à fatalidade do voo AF 447?! Então não vêem que nada há nisto de extraordinário?! Pesa precisamente aos vivos pensar o que tinham extra que os preservou de perecer lá, onde outros pereceram, como se de facto o conceito 'escapar' se possa realmente colocar aos vivos. Todos se pensam deuses desde que vivos, especialmente no esplendor desperdiçatório e perdulário do Primeiro Mundo. E todos pensam viver a vida dos outros deuses mais vivos que os demais, no Primeiro Mundo. Não compreendem que Cristiano Ronaldo & Paris Hilton, Silvio Berlusconi e as moças que alcoviteiriza para si mesmo e para o seu íntimo viagra de septuagenário sôfrego e podre de rico, não são senão deuses de barro caduco?! Humildade, seres humanos. Humildade, sempre! E Generosidade Amorosa para com quem precise. Está escrito que ninguém sabe o dia nem a hora, mas é aconselhado a Orar em toda a Hora e Lugar, vigilantes, como sentinelas prudentes, com o coração em frémitos de adoração amorosa ao Abba Celestial, para Quem todos são vivos. Johanna Ganthaler acedeu à Pátria dos Crentes, ao Definitivo que Há-de-Vir, Cidade Celestial que baixará um dia ao Mundo o qual da mesma forma se eleva para ela. A novidade está toda em ser Johanna notícia universal, o segundo nível de pseudo-divindade, no Primeiro Mundo e arredores: «Uma cidadã italiana que devia ter embarcado no voo 447 da Air France, mas não chegou a horas ao aeroporto, morreu num acidente de automóvel na Áustria, revelou a agência de notícias italiana Ansa.»

Comments

antonio ganhão said…
O destino é vingativo!
Anonymous said…
Joshua
Este texto é extraordinário.
Desculpe mas não resisti a retirar um pequeno excerto e publicá-lo no meu blogue (com os devidos créditos e links, claro). Espero que não leve a mal.
Um abraço
Jorge

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