A ÁFRICA «EM QUE TUDO É EXCESSIVO»
«Discordo ligeiramente de si, meu caro joaquim. Não porque seja um humanista ou um pacifista (que não sou...), mas porque considero que até na vingança — pessoal, popular, nacional, revolucionária ou de um estado — deve existir algum método, sem o qual tudo depois fica reduzido à selvajaria sem significado. Concordo plenamente que aquela outra matilha (o grupo descontrolado que o matou) não era domesticável ou composta por cavalheiros. Limitemo-nos pois a verificar isso 'resignados'. Mussolini não foi 'executado' por um tribunal popular ou por uma multidão — mas pelos serviços secretos britânicos; depois foi pendurado como um presunto, e a população que ergueu o braço saudando tantos milhares de vezes, foi lá assistir e fazer-se fotografar com os presuntos na praça. Ceausescu foi julgado (talvez ilegalmente e apressadamente à luz do Direito...) por um conjunto de cidadãos romenos; mas estes proferiram uma sentença, os para-quedistas romenos rebeldes (fardados com fardas regulares e verdadeiras...) guardavam o casal e foi um grupo deles que executou uma sentença proferida — deram-se ao trabalho de filmar e de registar todo o processo. Hitler tomou veneno e deu um tiro na garganta; depois seguiram-se julgamentos, penas de prisão e de forca. Já Samuel Dow, na Libéria, foi espancado, arrastado, mutilado e esfolado vivo — e o 'video' foi transformado num poderoso meio pedagógico a exibir a crianças pequeninas com 4 e 5 anos das escolas de todo o país. Agora Muammar é simplesmente apanhado, pontapeado, espancado, trucidado; e baleado para-médico-legista-e-inglês-verem. Enfim, é África — a África "em que tudo é excessivo". E, pela estatística, é fisicamente impossível que a turba revolucionária esteja impoluta de antigos colaboradores do regime de Khadafi: a crueldade extrema e a dedicação absoluta à nova causa também significam medo e má consciência, pois durante demasiado tempo demasiada gente apoiou e serviu o regime incondicionalmente — sem olhar às instruções mais absurdas. É mesmo desta massa despenteada, selvagem, sôfrega, ambiciosa, amoral e acrítica que estes 'regimes' são feitos. Vamos a ver agora quão livre, democrática, feminista, progressista, pacifista e trabalhadora é a "Nova Sociedade" líbia a emergir. O que se passou na Líbia não foi "uma nova madrugada" mas uma coisa velha como o mundo.» Besta Imunda
Comments