GOLEADA FRAQUINHA E OVERDOSE DE RAIOS GAMA
É uma pena que as goleadas do meu FC Porto se sucedam, em casa, mas o seu futebol continue encerrado, fechado a sete chaves, como se aprisionado numa porta repleta de ferrolhos. No meio de tudo, hoje ganhámos um enorme Mangala. Perdemos foi um príncipe, Hulk, que teve um verdadeiro desvario à imagem do Monstro Verde quando, sob uma overdose de Raios Gama [assobios], ao ser substituído, ignorou o banco, não cumprimentou um adepto e seguiu como um raio para o balneário para ficar só. Hulk é grande, tem um coração grande e humilde. Sabe retractar-se porque não desconhece o que seja gratidão, coisa de que é capaz em altíssimo grau. Fechar-se num orgulho feio, disso nem é capaz nem tem conhecimento do que seja. Parece-me que o único motivo para ter sido assobiado, além do futebol medíocre apresentado, poderá ser o novo penteado: o povo portista é muito macho e assimilou demasiado a ideia da loura burra = menos futebol, pelo que transfere injustamente a sua insatisfação e sua impaciência para cima de quem tanto lhe deu. E Hulk já nos deu de mais a nós, portistas. Se, por momentos, se perdeu e desatinou, esta noite, logo se reencontrou e pediu desculpas. Não se percebe o quê, que factores intervêm para gerar um certo clima em que parece caminhar-se sobre brasas. O jornal O Jogo concedeu um destaque infinito ao Incrível, ao longo desta semana. Percebe-se que parte da pressão e da cobrança sobre os jogadores, quota de leão eventualmente, ocorre nos jornais desportivos, o que por vezes constitui uma jogada de risco, porque por um lado pode intranquilizar e por outro certamente espicaça. O Moutinho de hoje, por exemplo, parece-me fruto do poder jornalístico de espicaçar desempenhos de alto nível. Hulk tem a cabeça na gloriosa Selecção Canarinha, síndrome inversa do jogador português com fastio da FPF e zelo desmesurado pelo Clube ricaço onde faz carreira. Enfim, quando uma equipa está unida, passa ao lado da imprensa, dos seus processos de cerco, das suas retóricas periféricas motivacionais, pela censura ou pelo estímulo. Não se sabe até que ponto é que se apertam certos laços, prisões invisíveis, com que se cercam jogadores por vezes distraídos entre desejos indizíveis de mudar ou de brilhar em grandes e ambiciosas selecções. No limite, qualquer coisa se quebra.
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