«A MELHOR SELECÇÃO DE SEMPRE»

«Miguel Esteves Cardoso, sempre tolerante e bem-humorado, dizia ontem, depois da vitória contra a Holanda, que os adeptos portugueses perderam e estão de castigo. Admito que ele tenha razão. O povo português é, como sabemos, um povo enlutado. Na primeira derrota, veste a capa negra, tinge os cabelos de branco e fi ca chorando mortos e feridos que nunca aconteceram. Como país, somos uma viúva. Mas eu queria mesmo, desta vez, não era tratar da viúva. Assistindo ao Euro no estrangeiro como tenho feito, o que mais me tem chocado são os desabafos dos “entendidos”. Com uma linguagem meio esotérica (felizmente ainda ninguém usou a palavra “bascular”), jornalistas, comentadores da bola, treinadores, ex-treinadores, ex-jogadores, começaram por desfi lar nas televisões e nos jornais distribuindo críticas e sentenças definitivas sobre a equipa portuguesa. Esta tem sido a selecção com a pior imprensa de sempre. Quando perdemos contra a Alemanha, os entendidos disseram que nos faltava estofo, atitude, superioridade. Numa frase: uma selecção apagada, ou mesmo uma selecção de coxos. Claro que Portugal até jogou bem. Mas que interessavam os factos aos entendidos? Eles só queriam que os factos confirmassem as suas piores profecias eliminatórias. Mas são maus profetas estes entendidos. Vejam, a seguir, o anti-ronaldismo. Por amor de Deus! Nem nos próximos 50 anos teremos um futebolista com a qualidade e a perfeição de Ronaldo. É um fora-de-série. Devíamos guardar o ADN dele num frasco.
Mas isso não chega para persuadir os entendidos. Eles não gostam de Ronaldo, dos jeitos, dos ademanes, dos cortes de cabelo, das tiradas inocentes. Queriam o quê? Que o rapaz fosse um intelectual? E, como falhou dois golos quase certos contra a Dinamarca, atiraram o rapaz para as galés. Segundo me disseram, que não consegui ler, até Miguel Sousa Tavares escreveu no Expresso que sempre achou que Ronaldo não é um grande futebolista mas um grande atleta. Quer Sousa Tavares explicar-nos o porquê desta subtil distinção? A gente não chega lá. Outro mito que os entendidos gostam de papaguear: a comparação entre esta selecção e a de Figo, Rui Costa e João Pinto. Meus amigos, eu reconheço já que não sou entendido. Mas meditem naquilo que vos digo. Eu bem me lembro do que foram as várias selecções nacionais nas décadas de 80 e 90. Éramos exímios no futebol de praia. Fartávamo-nos de lateralizar, para usar termos técnicos dos entendidos. Tínhamos uma defesa rachada ao meio. E, claro, os estrangeiros achavam-nos graça. Não passávamos de uns animaizinhos de estimação que rodopiavam e rodopiavam e nunca iam a lado nenhum. Esta selecção é uma revolução cultural. Não se cansa de rematar à baliza logo que vê uma nesga. Tem um sentido colectivo completamente estranho ao nosso patológico individualismo. Quando começa a perder, não se deixa afundar, outra coisa pouco portuguesa. Somos a segunda melhor defesa do campeonato, facto que sempre descurámos. Pois bem, muitos estrangeiros deixaram de gostar de nós. Começaram a censurar-nos e a diminuir-nos com a mesma severidade com que falam de Angela Merkel. Não há melhor sinal. Nunca se viu uma selecção que, até agora, provocasse tanta descrença e desmotivação. Mas os entendidos já começam a mudar. Ainda não perceberam que esta é a melhor selecção de sempre. Esperemos que confessem no fi m a sua frustração de entendidos.» Pedro Lomba

Comments

Miguel said…
Não acho que a melhor selecção de sempre, mas concordo com a parte da revolução cultural. A mim surpreenderam-me, em todos os jogos jogaram melhor do que eu previa. Com a Holanda conquistaram-me.
floribundus said…
mitos urbanos dos novos deuses do ó-limpo
floribundus said…
não é uma equipa.
são 10 bons jogadores e o ronaldo.
dispensam técnico

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