A SEDUÇÃO ANARQUISTA (SE O SOL TIVESSE TWINGLY)
nem por um momento pense que é mais anarquista
que os corrupto-anarcas estacionados no Cerne do Estado Português
ou a Bordo Oportunístico dos dois Partidos do Regime
que aspiram a, abusivamente, também eles,
usurpá-lo, confundir-se e misturar-se com o Estado.
Podem sê-lo em sentidos diversos, mas anarcas são-no ambos.
O que os distingue?
Só a corrupção inerente ao Poder, no sentido imperfeito e lisonjeiro da expressão,
e o Cinismo do Falso-Traiçoeiro Serviço ao Povo ou as Mentiras que lhe servem
para que o próprio Povo, por ignorância e omissão, lhe deixe correr o marfim.
De resto, mudam as palavras de ordem, o idioma politiquês,
e parecem irmãos gémeos.
lkj
O negócio negreiro moderno do Estado em Portugal tem sido, afinal, e em ritmo acelerado,
entregar o Povo aos caprichos do Capital e à sua indómita lei sôfrega
e depois ficar com o Ouro e sem o Ónus de ser, em bom rigor, Estado.
Ora, assim, ter Governo e não ter é rigorosamente igual
pois este comporta-se sempre como um primus inter pares Corporativo
e não como árbitro ou ministrador da equidade e favorecedor do progresso de todos.
Por isso as coisas seguem mesmo o seu livre curso anárquico,
favorece-se sempre quem têm de se favorecer, prejudica-se a grande massa, e, portanto,
a Anarquia vigora sob a desregulação praticada que melhor interessa aos plutocratas
para melhor explorarem, dentro da chantagem e da autocensura
geradas por imperativos de sobrevivência individualista,
cada um de nós. Em Portugal é assim deliberadamente e está tudo errado.
É uma coisa maquiavélica e cada vez mais desconfortável
porque por demais evidente nesta legislatura, por mais que disfarcem.
O ultraliberalismo aqui é um ultraliberalismo vertical, de Estado, compressor da pessoa,
ao passo que nos Estados Unidos, por exemplo, é toda uma cultura individual,
uma necessidade individual, um imperativo natural da sociedade livre, ascendente,
que arrasta o Estado e é o motor de tudo o mais
a tender para a ascensão e o bem-estar da pessoa.
A isto chama-se Patriotismo e Serviço Público, coisa que por cá rareia
ou é só folclore futebolístico pró-selecção.
ljlkj
«Tínhamos acabado de jantar. Defronte de mim o meu amigo,
o banqueiro grande comerciante e açambarcador notável,
fumava como quem não pensa.
A conversa que fora amortecendo, jazia morta entre nós.
Procurei reanimá-la, ao acaso, servindo-me de uma ideia
que me passou pela meditação. Voltei-me para ele, sorrindo.
― É verdade: disseram-me há dias que V. em tempos foi anarquista...
― Fui, não: fui e sou. Não mudei a esse respeito.
― É verdade: disseram-me há dias que V. em tempos foi anarquista...
― Fui, não: fui e sou. Não mudei a esse respeito.
Sou anarquista.
― Essa é boa! V. anarquista! Em que é que você é anarquista?...
Só se V. dá à palavra qualquer sentido diferente...»
lkj
Fernando Pessoa, O Banqueiro Anarquista
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