SERGUEI, ÉBRIO INABITUAL


Serguei, o moldavo, está bêbado. Não é um ébrio habitual.
lkj
É dia de beber para Serguei. Sábado.
Saíu da Moldova para vir estatelar-se e ser triste no país triste
de Soares, o indignado,
hoje tão silencioso e conivente com este apodrecimento crasso,
e vai calado, enquanto o ignorantolas do seu filho político, tiranóide e poluído,
devasta o País com o conflito e a divisão,
com a violência sorna com a qual esmaga e persegue indefesos,
caça discordantes, anula opositores com as armas imorais do Dinheiro e da Lata Infinita.
Serguei não faz nem uma pequena ideia do Sistema que deglute Portugal,
fruto da desvergonha desse Farsante que litiga e mente, dos outros servis que o servem.
Todos eles mentem e oprimem como se fosse a coisa mais natural do mundo.
lkj
Não tenho alternativa
senão sofrer com Serguei, enquanto, por brevíssimos segundos, nos cruzamos na rua,
afinal, sou tão exilado cá dentro e cá dentro excluído como ele ou até mais.
Agora cruzamo-nos simplesmente, festejo revê-lo, na Cidade,
[o Porto continua com os passeios pejados com profusa merda canina multicolorida,
merda alacre na qual, por uma tristeza maior, se pisa de um pisar displicente].
Homem dos seus cinquenta anos, trilingue mais o Português, Serguei sonha em moldavo,
pensa em romeno, ensina russo de pé a duas portuguesas maduras
ambas com um pé na promissora diplomacia dos negócios.
Encontram-se em certos dias da semana, e lêem russo juntos e reacendem, juntos,
de pé, outra Língua de afectos e implícitos da ternura.
kjh
Saúda-me. Gesticula para além das palavras, talvez beba em russo.
«Spaciba, não probliema! Bom domingo, ah!»
Sim, Serguei. Tudo isso! Na sua roupa cinza e negra, sempre a mesma,
o moldavo cambaleia. Tenta disfarçar o ter bebido.
Com o braço esquerdo, ampara-se no vidro externo de uma confeitaria
ou joalharia, não interessa, sob o toldo amarelo
cruza as pernas naquela obliquidade entorpecida.
lkj
É dia de emborcar e dar as costas do oblívio
a esta massa quotidiana dolente.
Serguei, fora dias assim ao longo do ano,
no frio de Janeiro e no mormaço de Junho, é reservado e tímido,
tem a compostura de um velho mordomo.
lkj
Hoje, barata, a minha garrafa de tinto é de Azeitão.
Até à última gota do desgosto revisitado,
também me assiste a inabitualidade ébria de beber.
Nostalgia derrotada. Meu sorriso.
Meu Poema-grito, dito e redito,
único Êxodo.

Comments

Helena Branco said…
No Porto... só embriagados... podem por em causa(e mesmo assim duvido) a nossa própria lucidez. O caos...do caos...onde o lixo transborda...e a invicta arruina...
ouso dizer que a massa encefálica que des"governa" frente a GARRETT é urina!
Helena Branco said…
...esqueci-me ...tão ébria estava ainda estou... que me vou repetir...Estou bêbeda pra esquecer! Encontrei Serguei!

Popular Posts