ANDAM FASCISTAS A PASSEAR NAS PONTES
Infelizmente, é absolutamente vital para o progresso e a liberdade do País que o Orçamento do Estado para 2014 seja aprovado e posto em vigor. Qualquer um, menos o beatífico e parcial Bagão Félix, menos a privilegiadíssima social Ferreira Leite e estafermo mediático, menos o ronhoso Pacheco Pereira, menos o grande emissor de perdigotos Daniel Oliveira, menos a perene indignada Clara Ferreira Alves, menos o alarve castrato Pedro Marques Lopes, qualquer um que não tenha trabalho e não seja funcionário público, percebe o quanto a face do País está na berlinda e suspensa do dinheiro do mundo. Claro que a possibilidade de cortar unilateralmente salários e pensões é uma hecatombe social que deveria ter sido possível evitar lá atrás, no tal passado de que os meus amigos chupcialistas não querem que fale.
Vemos que o regime democrático construído desde Abril de 1974 teve demasiada utopia e prisão de movimentos para nos dar o que tem sido dado ao Reino Unido, à Alemanha, à Holanda, à Dinamarca, e mesmo a França, descontando as vantagens da escala dos seus mercados: flexibilidade, menos Estado, libertação massiva de recursos para a iniciativa livre da sociedade. Em vez disso, tivemos um Estado com pendor para cubanizações retóricas e pragmáticas, muito oneroso, permeabilíssimo à influência parda e perturbadora dos grandes captadores ilegítimos dos recursos orçamentais e camarários, como a Fundação Soares, symbolo da máxima obscenização papalista do Regime Português e da mais infecta interferência sistemática e sem-vergonha nos Assuntos de Estado, conforme hoje verificamos ser e ter sido vício e recorrência.
Claramente, o OE 2014 comporta injustiças e violência social, mas não há outro caminho. O empobrecimento de que se fala, sendo um facto, pode sempre ser pior se por perda de paciência o País se derrubar a si mesmo, derrubando os delegados de Bruxelas, da Troyka e do FMI. Se queremos preservar a nossa democracia infantil e a soberania nacional, é preciso eliminar o risco de um segundo resgate, é preciso aplacar os Mercados e ter menos rancor e descabelamento de Esquerda. Não há outro caminho útil e de efeitos imediatos apaziguadores dos Credores, senão a nossa submissão aos compromissos assumidos com os nossos credores: os credores, agiotas ou não, têm direitos e, de futuro, só temos de nos preparar para uma democracia não passível de governações dolosas, danosas, de catástrofe como as que vigoraram especialmente entre 2005 e 2011 que depois descarregam o seu ónus pesadíssimo na filha da mãe da Direita. Estou pessoalmente apostado, do fundo da minha miséria pessoal, em passar por reacionário, distraído ou pateta no sentido de aplicar um olhar crítico e insatisfeito às obsolescências da Constituição da República, cujo parto, a 2 de abril de 1976, determinou um excesso de Esquerda na vida prática e, portanto, tal como em Cuba e noutros paraísos do colectivismo, paralisia de movimentos, nenhum progresso efectivo de adaptação a um mundo altamente competitivo e ultraflexível e não apenas nas relações laborais.
A Constituição, venha quem vier, obsolesceu e não está preparada para as exigências e inerências dos tratados europeus, da União Europeia e da nossa preservação numa nova moeda, o Euro, patamar de onde nos não convém despencar para o falhanço e a miséria a quadruplicar. Paulo Portas e a ministra das Finanças cumprem o que devem cumprir: o Estado sucumbirá senão contrair os seus gastos. E é preciso contrair 3 mil milhões de euros na despesa, recorrendo desse valor a 2 mil e 200 milhões de euros das famílias dos funcionários públicos e dos pensionistas, enquanto o BES de Ricciardi não se atravessa para o tal período de carência, nas PPP, o verdadeiro busílis da nossa dívida no próximo e pelos próximos anos. Não podemos decretar a abundância de dinheiro, coisa de que o Ratton parece não se capacitar. Do mesmo modo, a saúde, o ensino, a justiça, a segurança social e outros serviços não terão, como que por magia, todos os recursos necessários para funcionar com folga. A vida é isto. A Europa está a ser isto.
Estados sob Resgate, como o nosso, ou sem ele, como ainda é o caso da Itália, ficam sujeitos a tais agruras e a tais extremos. Em suma, será com os cortes, os aumentos de impostos e as contribuições sociais que serão evacuados para as mãos creditícias dos que nos emprestam dinheiro 4 mil milhões de euros. Não devemos temer a recessão porque há dinâmicas económicas novas num Estado liberto do lóbi do betão e das grandes obras de Estado que sugavam praticamente a restante grande parte dos recursos. Há que ter paciência e esquecer por uma vez o Estado, o Governo. Os objetivos de défice e dívida são maleáveis em função dos bons sinais que dermos a tempo e a horas aos Mercados e às Instituições Estalinistas Europeias: um Estado sob resgate que tergiverse, que finja boa vontade, mas que engonhe, tem problemas muitíssimo mais gravosos. Sobejam exemplos.
É por isso que este OE 2014 deverá entrar em vigor. É por isso que os cortes, estes ou outros, terão de ser feitos. É por isso que nós, as pessoas, teremos de sofrer e acatar e assim, dessa paciência e dessa entrega, teremos recuperação, a recuperação que paradoxalmente e contra todas os agouros do beatífico e parcial Bagão Félix, da privilegiadíssima social Ferreira Leite, do ronhoso Pacheco Pereira, do grande emissor de perdigotos Daniel Oliveira, da perene indignada Clara Ferreira Alaves, do alarve castrato Pedro Marques Lopes, se verificou em 2013.
Temos um Regime que nunca plebiscitámos. Temos um Regime que nos traiu três vezes as expectativas de progresso e criação de riqueza, falindo três vezes, com gente chupcialista subjacente a essas três falências. Que Portugal tenha falido três vezes tem consequências. Esta última falência cuja culpa não foi de quem resvalou incompetentemente a governação, mas da filha da mãe da Direita, é o problema com que nos defrontamos colectivamente e para cuja solução nos foram dados três anos. Mais Governo, menos Governo, venha o Primeiro-Ministro que vier, o que temos democraticamente morto e em decomposição é todo o friso de agentes da suposta democracia, dos Partidos à sua casa, o Parlamento, do Tribunal Constitucional e seus habitantes bem atochados de privilégios, à Presidência da República, vértice partidarizado e sempre partidarizável do sistema. O Regime é isto, é mau, e não me recordo que andem para aí uns fascistas a pedir que se demita o Regime.
Para levantar a economia, a sociedade e o país é preciso ganhar juízo e assemelharmo-nos mais ao funcionamento de Países com dinamismo, organização e retribuição em função da produção, como o Reino Unido, para onde milhares de portugueses válidos se acoitam e são reconhecidos. Não há Direita nem Esquerda, num OE. Há somente as linhas e limites com que nos temos de coser.
A única ameaça ao sucesso do ajustamento e à saída iminente da Troyka provém do Tribunal Constitucional e a rigidez do Estado de Direito democrático se for de Esquerda, se for utopista e idealista, indiferente aos limites e mudanças que ter falido implicam. Dar poder aos credores é o Estado Português tergiversar. Dar poder aos credores é usar as leituras da Constituição como nós cegos às nossas prementes necessidades de tesouraria e liquidez para matar as facturas a vencer no ano do Senhor 2014 . Portugal, depois de ter sido traído pela Cúpula Política, ter sido mal gerido, ter sido miseravelmente governado por imberbes, loucos e fanáticos, corre o risco de entrar no grande sepulcro do ridículo agarrando-se a uma Constituição Datada que nos não protegeu nem salvou de rapaces loucos e sôfregas eminências pardas. Em caso de dúvida, a parte fraca e devedora deve agradar provisoriamente à parte credora, procurando suavizações progressivas de comum acordo, prémios pela boa-fé.
Quero viver num País que cumpre. Quero habitar num local que não se pareça com uma Argentina ou uma Grécia nas suas rebeliões contraproducentes. Quero viver num Estado de Direito cujos direitos e liberdades fundamentais incluam o direito à não-falência de Estado, ao não-regabofe de Estado, o direito à prestação de contas por Governos despesistas e de pendor mãos-largas com amigos, favoritista com os banqueiros amigos e as construtoras amigas. Depois do mal feito, será necessário compreender e acolher todos os esforços no sentido de que as nossas condições e perspectivas não se agravem. É nos mercados que o Estado Português se financia. É graças a eles que podemos ter normalidade de vida. É da União Europeia e na sua moeda que dependemos.
Havia fascistas a passear nas pontes, ontem. Fascistas de Esquerda, gente que não entende a desumanidade de abusar do dinheiro alheio e da paciência alheia, gente que não compreende a fundo as consequências de não pagar. Não temos sabido desenvencilhar-nos do excesso de Esquerda, da paralisia de Esquerda, das favas contadas de Esquerda e das grandes raivas em pólvora seca de Esquerda agregadas ao emprego que o Estado, mesmo falido, terá de proporcionar.
Se vocês, fascistas dolorosos e esbulhados por este Orçamento 2014, imaginam que se resolvem problemas demitindo este Governo e realizando eleições, vão dizer isso aos franceses, aos italianos e aos espanhóis, cujos Governos se preparam, grosso modo, para fazer exactamente a mesma coisa aos salários e às pensões. Nada mais fascista na Esquerda que ignorar o quanto a única coisa que nos oprime, de momento, é pura matemática. A matemática que assiste aos interesses dos credores e nos penaliza a nós. Não há caminhos alternativos. O único progresso é produzir, poupar, empreender, exportar. E sermos livres finalmente a partir do sagrado caminhar por nossas próprias pernas e nosso próprio mérito. E sermos pessoalmente solidários com fica para trás.
Contra este mínimo, andam há demasiado tempo demasiados fascistas a passear nas pontes.
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