FÓSSIL ESPINGARDAR EM MINORIA

Portugal é um País extraordinário que consegue ter um Governo moribundo há dois anos e uma Esquerda Fóssil, Mumificada há quarenta com um manifesto problema de hiperventilação psíquica: exagera nos seus choques e dores de ilharga, está sempre à espera de um pretexto para se zangar e as lentes que usa para a realidade são as do eterno farisaísmo, inflexível, lapidário, aflito por partir para grandes batalhas campais contra moinhos de vento, aparecendo sempre em minoria.

Prefiro ter paciência com um suposto fascismo europrotector prosseguido pelo BCE e pelos Governos de Estados Intervencionados da União que o aplicam, apertando o gasganete aos sectores públicos na Irlanda, Grécia e Portugal, carreando um enorme sofrimento social a essas sociedades. Prefiro aturar essa estratégia. Desconheço qualquer outra. Prefiro suportar a maligna salvação dos bancos europeus e da banca europeia à custa de milhões desses contribuintes, desempregados cada vez mais endémicos, como eu, ou pensionistas vulneráveis como os meus pais, porque sei que um dia esse holocausto reverterá em benefício dos sobreviventes e máximos sacrificados de hoje, ressarcidos os que se viram na iminência de prejuízos volumosos e investimentos comprometidos pela insolvabilidade bancária de 2008, cujas perdas fariam colapsar a confiança mundial hoje muito delicada nos seus equilíbrios. A impaciência, escrevia recorrentemente Kafka, é o pecado capital da Humanidade. Quando lhe cedemos, sobrevém o pior. A Esquerda é impaciente e apressada nos seus juízos. Rasga as vestes, como se a inexorável Senectudocracia Europeia não suscitasse novos roubos reequilibradores do sistema nunca dantes necessários, a par da lenta coragem dos Governos para, em nome dos contribuintes e dos cidadãos prejudicados, atacar a chicha dos sectores protegidos.

O olhar impaciente do esquerdoproletariado sem prole, versão século XXI, anda sempre tolhido, de cenho fechado, triste, zangado, depressivo-esquizofrénico, à procura de pretextos para se irritar. As notícias boas nunca se relevam e as más são pretexto para os raivosos e viciosos abominadores da Direita largarem o seu flato intolerante, tingindo, por exemplo, Portas e Passos com o estigma de sacanas que sacam pensões e sacam salários e sacam impostos e sacam, sacam, sacam em nome do 1% de ricos e abastados. Não seria absolutamente estúpido andar Portas e andar Passos a arranjar lenha para se queimarem, exporem-se a um criticismo e a uma insuportabilidade de rua nunca dantes vistos?! Seria. Talvez se perceba que a situação portuguesa obriga a formas de actuação que se reclamam há anos porque há anos se reclama um reformismo que permita uma base sólida à vida dos Estados. Ainda não vimos os Governos atacarem a chicha dos Regimes, mas esta parece e promete ser a hora da verdade. É bom que seja.

Conviria que os mais acesos entesoados contra este Governo e contra o próximo e assim sucessivamente, dessem o braço a torcer, se as subvenções vitalícias pagas aos políticos tiverem um corte de 15% neste OE de 2014, começo de conversa para o actual Conselho de Ministros agir mais a fundo em nosso nome e menos em nome dos soares, dos machetes, da nata de mercenários que esteve sempre a salvo do que nos estrangula a nós, hoje. Há mais a pedir ao Conselho de Ministros, ao Governo, a Passos e a Portas?! Muito mais. A latrocinante EDP — com chantagem chinesa ou sem chantagem chinesa — necessita de um golpe de coragem e de ser taxada e regulada como se nós é que mandássemos em Portugal e não eles. A RTP carece de um princípio de moralização que não deixe dúvidas a ninguém, parando de absorver 200 milhões de euros/ano dos contribuintes. O mesmo se diga da abusiva corporação de pilotos fora do planeta terra, abissalmente longe da nossa realidade de fome, e que pilotam os aviõezinhos da TAP no seu egoísmo corporativo como se houvesse País para tanta diferença e sociedade para tanta desproporção. O mesmo se faça com chulos e privilegiados de luxo nas restantes empresas públicas endividadas e não salvas pelos swap que sobraram para pagarmos.

O Regime dos soares, dos machetes e dos animais corporativos, dos devoristas, dos receptadores de rendas chorudas porque sim, esse Regime necessita finalmente de um choque nesta hora da verdade: pense-se que as PPP rodoviárias socratistas-salgadistas foram uma ofensa gritante aos portugueses ainda por nascer e aos que estão no ocaso da vida e vêem pensões cortadas; pense-se que o sistema-cogumelo das fundações intocadas e intocáveis poderia começar finalmente a pagar impostos, por exemplo o IMI. Há demasiados deputados na Assembleia da República e demasiados motoristas para um só Primeiro-Ministro, demasiado dinheiro para os partidos. Corte-se aí. Dê-se o exemplo. Não deveria repugnar à maralha ministerial andar nos transportes colectivos e perder os tiques imperiais do popó.

Não se cortam 100 milhões de euros a viúvos e viúvas, ainda que a pretexto da justiça e no intuito de correcção de abusos, para depois meter 200 milhões na RTP ano após ano. Até 15 de Outubro, o Conselho de Ministros deveria surpreender-nos o mais possível, pelo positiva. Passos e Portas deveriam mostrar se só têm colhões para nós ou os têm para os outros, a malta que tem passado por entre os pingos do ácido. Não é bonito nem exemplar nem moralizador que tenham tardado tanto cortes nas subvenções vitalícias pagas aos 400 ex-titulares de cargos políticos, correspondentes a nove milhões de euros orçamentais por ano. Por cada esbulho aos pensionistas, um acto de moralização do Sistema.

O que é cansativo na Esquerda das manifs e das marchas, é que se tenha por detentora única e unívoca do património da sensibilidade, accionista maioritária da justiça e da irmandade dos Povos, única autorizada a insultar detentores de cargos públicos, única sob tolerância intelectual quando simplifica argumentos e a única pensar por e a tutelar milhões de bimbos que ignoram marchas e manifs e vão trabalhar efectivamente a fim de sobreviver, acatando a escravidão que o Global tece. E agora vêm com o luminoso fetiche da Ponte Salazar-Abril para espingardar, exercício inconsequente de quem não se atreve a esmurrar silenciosamente o inimigo, ingressando na indústria do tomate, aventurando-se na nova ruralidade, procurando actividades inovadoras, fazendo pela vida, emigrando, imigrando, comprando, vendendo, procurando alavancar o País e deixar na casota canina a raiva que nasce nos dentes. Nunca se tem visto e ouvido nas Esquerdas em Portugal qualquer coisa como «Ok, vou à procura de fazer alguma coisa por um País exangue.» Não. Tudo é Governo, pelo Governo e para o Governo. Não há, nunca haverá, mais vida para além da marcação em cima a um Governo.

Comments

Anonymous said…
Qual a culpa de um aluno carenciado para que, em razão das dividas fiscais dos seus pais, não lhe seja atribuída uma bolsa de estudo?

Obviamente que nenhuma culpa lhe pode ser atribuída!

Pois bem, se é lícito negar a um aluno carenciado uma bolsa de estudo, em razão das dívidas fiscais dos seus progenitores, por maioria de razão aos sócios da SLN, sociedade detentora de 100 % do capital social do BPN, também poderá ser cortado alguma coisa…

Fosse eu aluno universitário, chamaria à razão o Governo com a discussão do que então cortar aos sócios da Sociedade Lusa de Negócios … nunca cotada em bolsa, holding de um grupo que se financiava no BPN, que muito provavelmente ficará para a história como a maior fraude da 3.ª República, em razão da sua magnitude, cujo impacto nas contas públicas ainda hoje não é possível determinar completamente.

Popular Posts