PORTUGAL-CIGARRO FUMA-SE A SI MESMO

Este será um post para quantos alguma vez andaram aflitos na sua vida privada, com as mãos nos bolsos, a unhas neles a rapar cotão, encostados aos postes espirituais a ver se a vida passa sem reparar em nós. Portugal, hoje, é isso. Hoje, e sempre, é como se fosse uma pessoa. Por acaso aflita. Sem cheta. Há cento e cinquenta anos apertado em dúvidas existenciais. Encosta-se agora mesmo a um poste. Fuma o pensativo cigarro de si mesmo, cigarro com quase dois séculos e a cinza de mais um default tombando no chão quadridimensional da sua História Colectiva, os olhos semicerrados, os dedos nicotinados, os dentes putrescentes, o hálito entre o halo a merda ou a carniça. Fuma e cisma, com saudades, de Vítor Gaspar, o ministro que a auto-intitulada Esquerda Moderada dizia falhar estimativas, cenários, previsões, mas representava, sozinho, uma solidez que blindava Portugal da punição fiduciária dos mercados. Cisma na virulência dos galambas, putos imberbes, perfurados nas orelhas, a debitar furibundices no Parlamento. Cisma-se mais, fumando-se. Algumas demissões, por vezes, são fezes. Portugal continua encostado a uma espécie de poste da REN imaterial, fumando-se no seu cismativo cigarro. «Eu, Portugal, sou isto, não passo disto. Por um lado, governo-me, por outro tenho um programa de governo no Bloco e no PCP que é não estar em qualquer Governo, pedir a demissão de A durante meses e depois ver no que dá. Eu sou isto. E dá merda», pensa. Talvez o Portugal que se encosta e cisma estivesse no bom caminho consigo mesmo por ter Gaspar. Caminho que Paulo Portas torpedeou. Caminho que Cavaco Silva boicotou com o engonhanço dos Orçamentos verificados constitucionalmente em 2012 e 2013. Caminho que a miopia e a mesquinhez do PS transforma em ruptura, melindre, lavar de mãos. O Cigarro que Portugal fuma nunca mais acaba porque é ele mesmo. Aliás é um cigarro que se acende noutro cigarro ou não visse Passos no quase-colapso do Governo, em Julho, um tombo ainda maior na periclitante confiança dos credores internacionais e dos mercados. Portugal e o seu cigarro de juros em flecha. Portugal e o seu cigarro de queda na elogiometria europeia. Portugal e o seu cigarro Troyka a recrudescer exigências, num passo atrás na fidúcia relativa à nossa docilidade. Portugal encostado e fumando-se no longo charuto da instabilidade social em virtude de medidas que decepam rendimentos é o mesmo Portugal segurando e fumando o pesado charuto de si mesmo dos putativos novos chumbos do Tribunal Constitucional, talvez os juízes-Portugal-que-se-fode e que se fuma achem que isto vai pelo melhor dos mundos possíveis e arranjar alternativas financeiras é facílimo. Portugal hermafrodita sempre em diferendo entre a cabeça e o cu. Nada mais destituído de constitucionalidade ou repleto de inconstitucionalidade que favorecer, num futuro próximo, o agudizar de quaisquer cortes futuros. O grande cigarro de si-mesmo Portugal não acaba de ser fumado e a subjectividade da Polítca, os interesses da Política, os chumbos políticos e ranhosos do Tribunal Constitucional nunca unânimes, nunca unívocos, nunca peremptórios, fumam Portugal-Cigarro, encostado a um poste. Mudar é, nesse cigarro, inconstitucional. Adaptar-se? Inconstitucional. Sobreviver? Inconstitucional. Resolver o Problema? Inconstitucional. O mundo gira, mas Portugal deverá permanecer encostado ao seu poste constitucional, fumando-se a si mesmo. As metas impostas pelos credores são um problema do Governo e o Governo não governa o País. Está só ali para ser odiado e demitido e insultado por fazer o que, à luz do direito e das regras internacionais, tem de ser feito. A Oposição? Parece não fazer parte do Portugal que se fuma-cigarro a si mesmo, mas faz. E é precisamente esse mesmo Portugal-que-se-fuma, que se fuma-Governo, que se fuma-Oposição, que se fuma-Tribunal Constitucional a aparecer como uma só coisa encostada a um poste perante o olhar enfastiado do Mundo. Toda a merda mal feita e derrotista e decadente e descrente em Portugal, a um olhar inglês, é Portugal no seu todo. E qualquer covardia, ruptura, recuo, no Memorando é, a um par de olhos alemão, Portugal a perder por dois a zero, sem particularizar o frango ou a fífia. A nulidade e fraqueza extremas de Semedo-Catarina, de Passos-Portas, de Cavaco-Assunção Esteves, de Seguro-Chupcialismo, tudo isto é Portugal encostado a um poste fumando-se e falhando-se. Cansaço de este Portugal, se falhar, drama ter de ser o Hiper-Camões nos meus apelos a que não se falhe. A as Esquerdas, todo o seu ranço, renitência, e sentido utópico, é uma Igreja, uma fábula, com o Padre Eterno Soares a escarrar para cima do Espirito Santo Governo e todo o ranço do socratismo a atirar bandalhos aos pobrezinhos e a incensar o PEC IV, após três anos de cumulativa rejeição da água do banho e do bebé morcego, execrado por várias maneiras e por abaixo-assinados com 136 673 assinaturas. A Irlanda passeia classe, apesar do seu défice altíssimo e de um sofrimento social semelhante ao nosso. Deixou de fumar-se para sobreviver-se. A Grécia por vezes fuma-se, desafia a Troyka, diz que não vai e depois vai. A Grécia fuma-se inveteradamente, Grécia-cigarro, charuto-Grécia, Grécia-Charro. Portugal, os portugueses, encostado ao seu poste secular de iminente pré-falência, prefere falhar-se e continuar a fumar-se. Resvalar no incumprimento? Culpa do Governo. Demita-se o Governo. Venha outro para ser demitido e continuemos, Portugal, a fumarmo-nos como se não fosse nada connosco. O Governo é sempre mau. O Tribunal Constitucional sempre bom e um reduto de fumo menos tenebroso que a Troyka. O interesse nacional é a cinza que cai todos os dias da ponta de piça que fumega. O Presidente da República é escudo e couraça, não da matéria incandescente de evitar o incumprimento, mas da Direita e da Maioria. Fumo. O pesado charuto Portugal que Seguro não segura fuma-se num Memorando deixado sozinho para os outros. Seguro amua. Seguro chora. Seguro fuma-se Portugal. E nada tem a ver com esse pacote de agressão, pacto da laranja. E a loucura e o dogmatismo de igreja do PCP e do BE roçam a loucura e o desejo feérico de tragédia, mal o Tribunal Constitucional evacue mais chumbos graves a medidas com impacto financeiro expressivo e com a cotação de Portugal resvalar novamente para um novo abismo. Compromissos não é com este Portugal que se-fuma e se fode a si mesmo, novamente. O fundamentalismo totalitário das Esquerdas anti-Troyka vem a revelar-se, afinal, o totalitarismo mais fundamentalista e pró-troykesco que há. Portugal encostado ao Poste de si mesmo fumando a cigarrilha maricas de si mesmo, expede faúlhas mortíferas para si mesmo, inala-se e reinala-se. Pede demissões. Quer morrer.

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