AO TRIUNFAL BONZO BUDA COSTA


Passou a pastilha democrática das eleições autárquicas, com as suas ilusões e as suas esperanças. Não houve uma imensa participação cívica. Houve a mesma participação cívica baixa, ainda para menos, uma humilhante abstenção, entre emigrados, mortos e alheados: percebe-se que se há óleo lubrificador dos sufrágios ele escorre somente na engrenagem passional dos clubes-partidos da política, do seu velho ping-pong, e percebe-se que somente um refugo de dependentes e familiares das migalhas políticas se movimenta, espessa minoria que vota neles. Mesmo os falsos e semi-falsos independentes, amuados ou dissidentes do Partido que os preteriu.

Indiferente à História Recente, o Povo, mais quinhentos mil que no PSD, votou no PS. Votar PS é votar com a mesma inteligência e sentido de acerto com que Roberto, ex-guarda-redes do Sport Lisboa e Benfica, defendia a gloriosa baliza pífia aquilina. Lisboa, enfim, sorvedouro ímpar e supremo a todos os títulos, votou massivamente no Bonzo Buda Costa, alguém que anda a excitar a necessidade de excitação de todas as Esquerdas e a fazer sombra a Seguro: pela mesma razão por que se votou no Bonzo Costa não se podia votar no Bode Expiatório Menezes. É só fazer as contas.

Como um Clérigo do Partido Socialista, todos pudemos ver, triunfal, o Bonzo Buda Costa a abençoar os Eternos Parasitas da Capital, todo aquele Friso "Cultural de Repetidos Batidos" babando, que o aplaudia com lágrima de Esquerda ao canto do olho, especialmente Helena Roseta que sempre precisou de Homem, na Política: primeiro Sá Carneiro, depois Soares... e agora Costa, o Grande Bonzo Buda de todas as Esquerdas. A Capital é de Esquerda. A Capital, como aquele umbigo em forma de vórtice a pedir terramoto, não se enxerga. A Capital não vê um boi à frente dos olhos e menos ainda a grande paisagem desolada nacional. Na Capital, ou se mama directamente do Estado Socialista, quando ele existe em directo com o PS, ou se mama em diferido do mesmo Estado Socialista, com o PSD, ou se mama por interposto plano local na mega-despesista autarquia olissiponense, quando o socialismo prevalece. 

Há no Bonzo Buda Costa um vácuo menos vácuo que em Seguro e uma voz grossa mais grossa e mais convincente que a do Tó Zé. Costa tem ainda, como argumento, uma pele em tom bronze liberdade. A política participativa mediante o voto, no seu velho flato amnésico, soltou-se. A Capital votou mono. 

O Porto elegeu um Príncipe Suave e a sua liteira. Lisboa quis confirmar o Super-Bonzo Socialista, pai dos pobres e esperança dos aflitos. Passaram as arruadas. Voltou Portugal espezinhado pela Troyka. Todos aguardamos por más notícias, melhor que péssimas. O Estado está sob estresse, mas não a Lisboa de Costa. Há incerteza no ar quanto ao desenlace desta dupla avaliação troykista, mas a Lisboa do Bonzo Buda vai bem e ficará ainda melhor, não temais. 

Separados à nascença, na sua negatividade desesperançadora, se Semedo se atirou a toda a casta de desculpas pela sua estrondosa derrota, pelo seu gritante Zero Hilariante em todos os planos, Passos, fica claro, também gosta de apanhar. Apanha na medida em que recusou hostilizar e estigmatizar o PS, o qual, ao invés, fez e faz uma campanha-hiena sem quartel e sem descanso para demonizar e menoscabar a jangada governamental desde o início. Pois eu digo: observando o desfecho destas eleições, dá vontade de, agora sim, de atirar o País para legislativas antecipadas, italianizar isto. Passos, que não se sabe defender nem defender o Partido nem defender o Governo e a sua brutal herança, deveria demitir-se. Toda a fauna socialista e bem-pensante conspira contra si-Passos. Fosse ele outro, entregava o Poder à gloriosa omnipotência mundividente do dr. Seguro e ao clero sem cloro do grande friso do Regime, avistado na aclamação messiânica a Costa, o Bonzo Buda: Soares, Alegre, Almeida Santos, todos. Sair de cena e entregar a casa roubada sem trancas à porta pelos Socialistas aos mesmos Socialistas, sempre com a caramunha, seria qualquer coisa de impacto mundial, tal como deixar o Escorpião Portas a falar sozinho. «Criaram toda a espécie de problemas, geraram toda as dívidas pelas décadas das décadas, fomentaram toda a espécie de óbices manhosos à sua resolução? Pois então desemerdem-se vocês e o vosso planeta nefelibata socialista!» 

Nestes dois anos, não tem havido coragem governamental, assertividade governamental, e bons exemplos governamentais. Ofenderam-nos com Relvas e Machete. Insultaram-nos com nomeações de imberbes às dúzias para funções pagas a ostras, ouro e papel-higiénico de platina. A frugalidade dos tachos neste Governo vai no Batalha e não fica atrás do outro Governo. Os merdia e os partidos abençoados pelos merdia, espécie de cartas viciadas que dizem e dão a dizer sempre a mesma coisa, não indulgenciam nada neste Governo. Opinadores sob estipêndio das TV, ressabiados das oposições, espíritos de contradição, espalham a sua cizânia como se fosse a coisa mais natural do mundo. Os offshores parisienses financiam as mesmíssimas vozes de burro e o seu legado asno. Não há futuro para a dívida e paz orçamental do Estado Português sem um novo ataque aos salários, ao emprego no Estado, às prestações sociais, aos custos na saúde. Embora a retórica dos recessos deste Regime diga, dirá o que quisermos ouvir, que há alternativas. A dívida tem muita força e o traiçoeiro voluntarismo socialista, célere a criar O Problema, arrasta-se e é lastro na solução de Qualquer Problema. O PS institucional tem muito sorriso, vai inchado e não seguro, mas não poderá impedir que, no curto e médio prazos, nos tornemos ainda mais pobres a fim de baixarmos a dívida pública que nos estrangula e sequestra o nosso sistema bancário apanhado pelos colhões pelo que andou a fazer em larga escala em 2011. 

Não há volta a dar-lhe, diga o venenoso Pacheco Pereira o que disser. O défice tem de ser cumprido. E será. A dívida terá de recuar. E recuará. Tem o PS uma mensagem diferente? Mente. O eleitorado recompensa mentirosos, começando por recompensar os mais mentirosos. Numa escala de Zero a Dez, o PS mente dez e o PSD mente sete e meio. Há que premiar quem mais mente e quem mais engonha. Isso explica o grande resultado do Bonzo Costa Buda que tinha à sua frente a aplaudi-lo efusivamente inocentes e admiráveis ex-gestores públicos como Carlos Costa Pina, esse clarividente caucionador de subscrições swap. 

No fim, os portugueses estarão sempre aí. Aí para se baldarem largamente aos plebiscitos eleitorais. Aí para recompensarem os despesistas sem obra e punirem os despesistas com obra e intervenção social. Aí para votar nos Bancarrotas-PS, nos Socialistas-Bancarrota, desde que algum tempo tenha passado sobre as memórias tolhidas. Fome, desemprego e desespero nunca é obra sua.. Punir por punir, puna-se o ajustamento brutal em decurso, não o caminho regabofiano que o preparou. Poupe-se o partido santinho PS que o Passos nunca invectiva, nunca ataca, nunca responsabiliza. Estão, sempre estiveram, muito bem uns para os outros. 'Bora, todos a gritar: Bonzo a Presidente! Bonzo a Presidente! Bonzo a Presidente!

Deixo claro, desde já, que no plano estritamente pessoal, simpatizo e respeito a pessoa do político António Costa. Azar ser socialista e ter pontificado ao lado do camarada Pinto de Sousa.

Comments

Popular Posts