DA MAIS ABJECTA ABSOLVIÇÃO DE SI

Admito-o, com a máxima franqueza: Passos e as suas circunstâncias trouxeram-me um curral de desemprego, trouxeram-me cortes selváticos e perversões no que realmente recebo de subsídio de desemprego e é abaixo de miserável, indigno, tornando impossível ser pai, marido, gente. Mas não tenho ódio com que odeie este Governo já sobejamente odiado por ter cão e por não ter, porque sim e porque sim, para além das grilhetas herdadas. Sócrates, com a sua máquina mediática furiosa que debitava treta de entreter vinte e quatro por vinte e quatro horas, sete dias na semana, varria os pobres e a paisagem do real feio para debaixo do tapete nas inaugurações-croquete, nos anúncios repetidos, no optimismo vácuo, na mensagem charlatã e no luxo com que se rodeava e a que se não poupava. Passos atira-nos com o real para cima das costas, em bruto. Sócrates fingia que não havia pobreza nem cada vez mais desempregados. Passos quer evacuar de Portugal o máximo de activos humanos através de uma massiva emigração de corações, braços e cérebros, e porventura matar de inanição desempregados, doentes e pobres com mais doses de abaixo de penúria. Um luxava e fingia. Outro perde cabelo e procede segundo a mais estrita crueza em consonância com a situação das Contas Públicas e o que delas puder salvar. Há um fio condutor a ligá-los e a contrastá-los. Se muitos já não suportam o sucessor, é impossível aturar o antecessor, que destila ressabiamento entrevista após entrevista. A última escarradela aos Portugueses dada pelo ex-primeiro-ministro é a entrevista publicada hoje pelo Expresso. O Absoluto Lamentável vem para se defender, coisa a que se dedica ingloriamente através do pseudo-comentário político na RTP e que ninguém vê para não sofrer mais que no WC, comentário com o qual conspira, treslê e perverte facciosamente a sua vingança contra a Direita que, com o apoio do BE e do PCP, o apeou. Fala da boa vida Paris para nos atirar um camião de desprezo e insulto: «Nem sabia que existiam vidas tão boas.» Mas quis saber e viveu ou vive uma à conta de deliberado desmazelo e má governança. Note-se a linguagem obscena com que reconstitui o período que antecedeu o pedido de assistência financeira internacional, com que diviniza o PEC IV, «mas os filhos da mãe da direita em Portugal deram cabo de uma solução apenas para ganharem uma eleição.»; note-se o desbocadamento com que apoda de «estupor» o ministro das Finanças, Wolgang Shäuble; ou como a Pedro Passos Coelho versão 2011, «para lhe dar conta da situação e dizer que urgia salvar Portugal» como se agora não urgisse salvar Portugal. Não conheço ninguém mais danado acima e para além de tudo pelo redentor ter sido apeado do poder. Veja-se a baixeza com que se refere ao Presidente da República: «Fizeram-me uma malandrice. Pensada a partir de Belém. Foi o momento escolhido para dar cabo do Governo, criar uma crise política e levar-nos a assinar o memorando. Resisti o mais que pude, mas a realidade impôs-se.» Quem lhe mandou resistir à realidade e fabricar uma, aquela que bem quis?! Quanto à nacionalização do BPN, bastam as palavras “não” e “saber” para nos atestar a leviandade sistemática das suas decisões: «não sabia o que aquilo era, o risco sistémico era real e Teixeira dos Santos estava apavorado com esse risco e uma corrida aos bancos». Apavorado contigo, badameco Bardamérdio Sócrates. O Teixeira andava apavorado contigo, pá, com o teu cálculo político para tudo, tu que usaste a merda do BPN para marinar uma Opinião Pública contra a laranjada corrupta, biombo perfeito das porcarias que o teu Governo perpetrou. E ainda dá para filosofar: «Arrependermo-nos é errarmos duas vezes. Posso ser ingénuo, mas nunca me ocorreu que aquilo fosse o que foi», foi o que quiseste que fosse: o Estado-Contribuintes a entrar com a massa e a malta do Bloco Central de Interesses a salvar os seus milhões. Bendita a hora em que insististe num governo minoritário e apostaste na vitimização quando tudo corresse mal e o défice de 2010 explodisse na tua cara de pau como uma bomba de merda. Seis anos a urdir cuidadosamente um estado de coisas putrescente, a fabricar toda a sorte de negociatas, a atirar migalhas aos pobres, cheque-bebé, complemento solidário para idosos, a ser bonzinho, sensível, social, a coleccionar comissões políticas, a assinar PPP e a disfarçar com swap, a fazer merda, a sorrir, a aparecer nos media, a financiar avençados da Opinião e do jornalismo, a colonizar as TV, as SIC de comentadores amigos, caolhos, cobardes, cediços, venais, a plantar opinadores favoráveis “espontâneos” nos fora, no fórum da TSF e em todos os outros. E depois da tempestade perfeita, o resultado natural: «Custou-me os olhos da cara pedir ajuda. A alternativa era o “default”. Assinei. O que é que podia fazer? Já ninguém lá fora dava nada por nós. Foi o que a direita quis, obrigar a pedir a ajuda e o PS assinar o memorando. Ficou como a minha pedra no sapato.» Homem, mas o que é a Direita? O PCP? O BE? Todos os cidadãos escandalizados com os abusos, as traficâncias, as promiscuidades, os berlusconianismos, o absolutismo, a ganadaria chupcialista toda prostrada em Espinho a aclamar-te, com automóveis topo de gama estacionados lá fora?! Essa Direita? Tem vergonha. E a cereja em cima do poio da entrevista, tinha de ser, implicitamente a questão formalista com que hoje o Governo, a Oposição e as forças vivas do País se deparam: salvar Portugal no Euro ou não o salvar por amor da Lei Fundamental ou das leituras bizantinas que o Ratton dela faça?! Submetermo-nos a tempo ao tempo imposto pelos credores ou piorar a nossa cotação mundial e a nossa face, arriscando penalizações incomparavelmente maiores?! Sua Execrância Mansa e Sorrateira doutoriza uma resposta: «A responsabilidade de um político perante a comunidade que o elegeu é o respeito pela Constituição e da lei. A partir do momento em que um traste de um político invoca a razão de Estado para pôr em causa a Constituição e a lei, ele atravessa a minha linha vermelha. Ele não está a defender o estado, está a matá-lo!». Pois, mas no singular caso Português, meu caro Abominável Primadonna Sr. Bancarrota, o que mata o Estado é a Corrupção de Estado, coisa com o 25 de Abril ainda larvar mas que levedou sob o chupcialismo sistémico e as lógicas clientelares que estrangularam as nossas hipóteses de crescimento, realismo nas opções, e uma vida assente na riqueza gerada efectivamente e não num financiamento a escalar anualmente. O que mata o Estado, pá, Neurótico Narrador, é o que se esteja disposto ou não a fazer para abraçar o mundo com as pernas, contentar tudo e todos, especialmente a escandalosa Húbris do BES sobre o cangote geral dos contribuintes, verdadeira OPA à nossa liberdade pelas próximas décadas. Para todos os efeitos, Charlatócrates, nesse tácito e recorrente casamento Governo Chupcialista-BES, tudo foi possível, e foi por essas e por outras que, com os teus galfarros, assassinaste a Face de Portugal, apostando alto nesse teu poker político cretino. E bastou isso para não teres qualquer moral para falar e muito menos para te absolveres. É uma sorte para ti e para os teus sequazes que a impunidade seja o nome do meio do Regime. E uma pena.

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