ADVOGADO DESESPERADO
Uma tristeza. São cada vez menos os homens de responsabilidade fora da realidade. Ou andam calados e calados ficam. Ou surgem de tal modo que se percebe bem ao que vêm e o que advogam desesperadamente: escudar comportamentos nefastos em decurso e demonstrar que o actual ambiente pestilento da política não abre nenhum precedente, pois assim vivemos há décadas e por isso mesmo o melhor seria deixar as coisas conforme estão. Além do Primadonna e da sua corte de serventuários, Ricardo Espírito Santo Salgado é clamorosamente um dos poucos que resiste à realidade. O discurso segue pastoso, colado ao definhado e mortiço Partido Socialista. A promiscuidade Estado-PS/Banca não poderia ficar melhor ilustrada nestas aparições sôfregas e aflitivas. Porque o seu Banco está metido nos negócios de Estado e o Estado metido nos negócios do seu Banco até à raiz dos pentelhos, como uma promessa de casamento financeiro pelas décadas futuras, coisas a que abusivamente se tem chamado "investimento público" mas se deveria chamar "mega-endividamento público". Por isso mesmo, o extraordinário banqueiro tem emissões opiniativas salvíficas sobre a política geral seguida por esta nódoa que o enodoado Primadonna encabeça, como se a gente lhe desse crédito. De boas intenções emitidas politicamente está o inferno social e económico cheio. Em entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, a quem haveria de ser?, diz querer acreditar que o actual Governo, ainda que minoritário, conseguirá chegar ao fim do mandato, como se há muito não estivesse desgastado, descredibilizado a todos os títulos, em ruptura com a sociedade e sem rumo. Em vão falará em defesa da prossecução das opções mais favoráveis ao seu Banco e contrárias ao interesse geral: «Quero acreditar nisso, porque não é o momento de estarmos novamente com eleições. Não nos podemos esquecer de que as eleições legislativas anteriores foram há relativamente pouco tempo, seis meses, por aí.» Pois. Seis meses de politiquice, de descrédito moral e miserabilismo servidos a rodos. «O Governo, o Partido Socialista, tem a legitimidade de ter ganho relativamente aos outros as eleições». Não vá o Banco de Ricardo perder as oportunidades que o arrogante "dono" de Portugal lhe concedeu como recompensa pelo bom comportamento e disponibilidade. Ainda bem que o tempo que conta em política e a legitimidade que conta em política são os da conveniência das sociedades e não os da conveniência de Governos pouco sérios e nada vocacionados para servir na óptica da escuta e da permeabilidade ao clamor das pessoas. Sumo interesse da sociedade é evacuar urgentemente quem mente, quem abusa no exercício das funções que lhe foram confiadas, e não olha a quaisquer meios para inchar de poder.
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