MALQUERENÇA

Ela inquiriu pela irmã mais velha. Humorado, porventura ébrio, portanto ainda mais lúcido, um dos adultos circunstantes respondeu soltando a frase álacre de que se calhar teria de procurá-la de quarto em quarto. Fora perfeitamente inocente a alusão aos quartos. Uma brincadeira vocal, social, com uma desconhecida imensamente jovem e afinal imensamente puritana. Sim porque a moça enfiou. Fechou o rosto. Era bela. Magra. Atraente. «É a minha irmã!», atirou impiedosa e fuzilando a todos em derredor. Debalde explicar-lhe a inocência e leveza de tudo aquilo, a alta consideração que todos tinham pela sua irmã. Agarrara-se à interpretada ofensa como náufrago a restolho. Irredutível. Toda a puritana esconde uma aspiração devassa vulcânica e insaciável. A falta de um homem enegrece muitos corações fêmeos ocasionalmente vazios. Não perdoou. E foi assim que se acendeu a labareda da desconfiança, do desconforto e da malquerença.

Comments

Popular Posts