O VENENO DE ANFIELD

Já o escrevi e desejo-o sinceramente: que o Benfica obtenha uma enorme vitória esta noite. Fosse o Sporting, seria o mesmo desejo. Não falo sequer do que seriam as minhas expectativas e votos, se esta noite estivesse em causa a progressão do meu FC Porto numa competição internacional. Temo o veneno de Anfield, como temi (menos porque dele mais inconsciente) o veneno do Emirates. Quero pensar que não será cometido pelos jogadores e técnicos do Benfica qualquer daqueles erros aselhas perpetrados pelo FC Porto contra si mesmo, na segunda mão da Liga dos Campeões, em casa do Arsenal, depois de um resultado traiçoeiro exactamente igual ao averbado pelo Benfica na Luz, e bem. A goleada do Arsenal sobre o FC Porto foi um espectáculo absolutamente triste a todos os títulos. Se escrever for profilaxia de espectáculos equivalentes, sirva este post o seu desígnio preventivo. Derrotas e goleadas são exactamente o oposto do que carecemos, portugueses despojados de tudo. Se não temos um Estado de Direito, mas de inomináveis atropelos toscos e escabrosas perversões tortas ao erário público e ao bem comum, numa completa falta de transparência ao mais alto nível; se não temos uma Justiça efectiva, mas um simulacro sorna com os dados viciados em favor dos fortes e da impunidade partidocratofágica; se não temos uma Economia robusta, mas um lastro de pequeninos e Altos Dependentes do Estado, lautos sugadores dele e dos esmagados contribuintes, podemos e devemos consolar-nos com alguma coisa de bom, tal como os pobres gregos pobres, condenados à Merda pela mais refinada merda da sua elite política. Eles consolam-se com os jogos do Ολυμπιακός e do Παναθηναϊκός. Façamos o mesmo. Todas as alienações legítimas e todos os paliativos de curta duração, como o futebol, são bem vindos. Nada se perde em ser boçal por noventa minutos e assim exorcizar males tão negros. E pluribus unum, belo lema, viu-se na ajuda à Madeira, mas não se vê em mais nada. Será preciso um cataclismo monstruoso para reunir, remoralizar e refazer um Portugal velho, moribundo, multiexplorado e enganado?