PROBÓSCIDE

Evidentemente quer o mundo parece não ter sentido: o mundo dos que morrem em monstruosos deslizamentos de terra e o dos passeiam toda a vida o estômago pelos melhores restaurantes parisienses, o mundo dos que são vítimas do haustelo prolongado da Banca, décadas sugados, como uma sentença de morte que não acaba de matar o pobre, e os que obtêm prémios milionários numa sociedade ultradesigual. Os jornais agridem-nos todos os dias com a aparente falta de sentido de tudo. Estrita lucidez diante dos factos planetários e societários brutos, a morte acaba por nem nem ser o pior dos males, mas a libertação mais perfeita de uma malha oprimente tão bem montada a fim de oprimir pelos séculos dos séculos. Há setenta anos o NKVD liquidava a conta-gotas mais de vinte mil oficiais do exército polaco: um tiro na nuca e era tudo. Ontem, parte da elite de Varsóvia esfumou-se, num quase certo atentado, a bordo de um Tupolev Tu-154, a caminho de Katyn. O mundo só teria sentido desmantelando a longa probóscide dos sistemas de pecado e exploração humana: tarde de mais. Sem Cruz, sem Marx, a Grande Prostituta-Probóscide rules sobre a esmagadora maioria. 

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