EU, O PREDILECTO

Eu, o Predilecto, o Discípulo Amado de Yeshua, vi, e por isso chorei alvoroçado, a força da Sua Palavra penetrante. Vi e vibrei com a autoridade interior com que Ele, o Único, paralisava legiões de blasfemos Fariseus e Saduceus integristas, prontos a escarrar-lhe na Face pela ousadia de profetizar com suprema luminosidade. Vi como Ele sustinha, apenas com o Seu olhar sereno, hordas de apedrejadores de adúlteras, enraivecidos. Vi e toquei a cura inesgotável que promanava das Suas mãos, das Suas meigas Palavras de bênção, ou simplesmente jorrava da Sua saliva santíssima misturada ao pó da terra com que desatava línguas nunca desatadas e abria olhos nunca abertos. Vi e toquei aquela compaixão inesgotável pelos mais pequenos, pelos doentes, excluídos, explorados, moribundos, enjaulados em si mesmos por ferozes demónios. Olhos nos olhos, amei e fui amado pelo Senhor, o Filho Unigénito de Deus. Dormitei muitas vezes, extasiado, n'Aquele peito divino, onde um coração divino batia, ardendo por atrair todos a Ele. Escrevi e está escrito no meu Evangelho, 20,1-9, que no primeiro dia da semana, Maria de Magdala foi ao Sepulcro, logo de madrugada, quando ainda estava escuro. Viu que a Pedra fora retirada. Correu então a fim de ir ter com Simão Pedro e comigo, o discípulo predilecto, aquele que Jesus amava, a dizer-nos: «Retiraram o Senhor do Sepulcro e não sabemos onde o colocaram». Entreolhámo-nos Pedro e eu. Saímos ambos e fomos ao Sepulcro. Corríamos a par, mas eu corri mais depressa que Pedro e cheguei lá primeiro. Inclinando-me, vi as ligaduras de linho por terra, mas não entrei. Chegou também Simão Pedro, que me seguia, e entrou no Sepulcro, viu as ligaduras por terra e o sudário que cobria a cabeça de Jesus colocado à parte. O sudário não estava no chão com as ligaduras de linho, mas enrolado num lugar à parte.  Então eu, que chegara primeiro ao Sepulcro, entrei também: Vi e Acreditei. Ainda não tínhamos compreendido que, conforme a Escritura, Ele deveria ressuscitar dos mortos. O meu coração de companheiro e discípulo rejubilou enormemente. O Senhor está Vivo. A Sua sacratíssima Carne e o Seu sacratíssimo Sangue entraram na glória e será na glória do meu tacto que de novo Lhe tocarei as mãos e o peito transpassados. Uns dirão que fomos nós que O roubamos a fim de lançar o boato da sua imortalidade, mas ninguém daria a vida por um boato e seremos milhares a testemunhar pelos séculos precisamente isto: o Senhor está vivo e santifica o mundo.

Comments

Carlos Portugal said…
Christos Anesti. Uma Santa Páscoa.
" em cada coisa Te vi e te toquel-pedra sagrada da sibila-murmúrio de palavras pressenti e nelas com urgência acreditei"

Nuno Higino em Delfos

a Páscoa nossa de cada dia nos dai hoje...

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