UM PAÍS, DUAS DESGRAÇAS NARCÍSICAS
Quase livres do Primadonna [que ainda conspira por Paris], mas não da Múmia. Cavaco deveria fazer um voto de silêncio. Por muito tempo, nem falar nem mostrar a cara ao País pobre em cuja pobreza cooperou activamente, dadas as culpas próprias ao tempo servil do Bom Aluno e dado o salvo conduto concedido ao Primadonna para nos conduzir às faldas da falência. Mentir ou ter declarações omissas para o grande público a fim de passar uma imagem pseudo-compassiva, isso é feio, Aníbal. Ontem, senti-me insultado, tendo em conta a miséria que ganho e, sobretudo, o que gasto para poder ganhar o que ganho: nem para sobreviver serve. Olhei para a minha mãe e pai septuagenários. A politicagem reles que temos insulta-os ao pretender dar um ar de vítima ou de equiparáveis aos demais, à massa de pensionistas, esses que ou comem ou compram medicamentos. Coitados dos pensionistas portugueses! Quando Cavaco se lamenta dos mil e trezentos euros, penso nas centenas de milhares deles de Catroga, na diferença de percursos e na substancial diferença da fortuna. Miseravelmente, aturámos o narcisismo obstinado e estéril de Sócrates e vamos aturando a insensível miséria de alma de Cavaco, narcísico e autoritário todo ele. Triste sina. Lamentar-se por receber três vezes mais da pensão média é próprio de um marciano, de um português distraído, apesar das suas altíssimas responsabilidades, incapaz de verdadeira e lúcida consciência relativamente às dificuldades dos seus concidadãos.
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