UTOPIA DA MUDANÇA IMPOSSÍVEL
Não é líquido que passemos a usar mais os transportes públicos ou a levar comida para o trabalho no decurso ou a partir deste ano de 2012. Não falta quem me venha dar conta do transbordar das lojas ao fim de semana ou de certas enchentes consumistas altamente improváveis, dada a Crise. Os hábitos só mudam com eventos muitos drásticos em vidas concretas neste 2012 como muito antes de ter chegado este clima de angústia e contracção económica expectante. Pessoalmente, já revolucionei radicalmente os meus hábitos faz por agora três anos: passei a andar fundamentalmente a pé, de autocarro e de metro. Mas observo bem esse individualismo entranhado muito nosso. Ele não parece refrear-se, enquanto houver dinheiro debaixo dos colchões, recantos e velhas poupanças a prazo, feitas a pensar em horas de fome e falta. O velho associativismo do início do século XX, que floresceu um pouco por todo o lado, vive hoje em certos casos da carolice de alguns utópicos resistentes para quem cobrar as cotas dos associados é a pior e mais frustrante via sacra. Assim a solidão, que vai próspera, o relegamento dos velhos e o evitamento dos rostos pelos rostos, acabrunhamento como forma de vida enquanto se raspam raspadinhas na vergonha de uma mesa de café. Três anos a pressentir o pior, vendo, imutável, o mesmo consumismo, o mesmo individualismo, a mesma solidão, a mesma indiferença ao outro. Somente ainda mais doentes ou quase mortos mudaremos de hábitos.
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