AMAR DESALMADAMENTE BEETHOVEN

Grande obra e transcendente seria se todo o ensino, toda a tarefa pedagógica, tivessem como corolário o amor aos grandes compositores, à sua música, naturalmente. É necessário mais paixão derreada pela Música, não menos, mais sensibilidade entre os homens, não menos. Qualquer coisa que nos encaminhe para esse êxtase é bem-vinda, nem que seja uma carta. Por mais mortos que estejam, a cada dia vivem  mais e mais. Não creio ser o único a desfalecer de prazer com essa música: um Mozart que irrompe imprevisto, um Beethoven que jorrou de dentro, apesar de entrar mediado por auscultadores. Qualquer migalha de Música, de paixão, de puro encantamento dos sentidos, de deriva interior por paisagens absolutas transbordantes num olhar que rebrilha, não sei se pela frialdade exterior, enquanto caminho, se pelo modo como flutuo por dentro — venha a nós, Senhor. Muitas vezes os compositores mendigaram perante o desdém geral, só por vender as suas obras mais acrisoladas que o ouro. Hoje mendigamos nós por uma só partitura, um mísero papel efémero e infinito: «"O meu baixo rendimento e a minha doença exigem esforços”, escreveu o músico, que morreu em 1827, apenas quatro anos depois de compor “Missa solemnis”».

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