O DESASTRE DA MENSAGEM

A pobre mulher pronunciou-se canhestramente sobre Saúde e hemodializados. A abordagem mereceria outro tacto, infinito escrúpulo. O coração do hipócrita pode até ser um deserto, mas redimir-se mediante uma expressão adequada e moderada. Assim se comporta a enguia Vitorino e muitas mais ténias do comentário. Compassivos diante das câmeras. Videirinhos nas demais horas do dia. Demasiada honestidade fere-nos: «Tem sempre direito se pagar. O que não é possível é manter-se um Sistema Nacional de Saúde como o nosso, que é bom, gratuito para toda a gente. Para se manter isso, o Sistema Nacional de Saúde vai-se degradar em termos de qualidade de uma forma estrondosa.» E não é preciso muito esforço, observando a extrema indigência da realidade económica, fiscal, social, portuguesa para rejeitar liminarmente quaisquer veleidades e brutalidades tecnocráticas que possam emergir. Quando o sofrimento chega, se tudo falhar, não falhe aí, ao menos aí, o Estado sádico, injusto e cruel que a incompetência e a incúria dos políticos frankensteinearam. Há limites. Um Povo pobre exige que o Estado não recue nos cuidados de saúde especialmente aos mais pobres dos pobres. Ao menos aí, ou há solidariedade e compaixão ou o caldo entornará. Se não houver solidariedade nem compaixão, basta que haja bom senso. Não quero uma Política desalmada, uma continuação do passado recente, apenas sem a chatice de aturar a personagem horrenda que combati todos os dias. Não quero imaginar sequer que o passado recente mais infecto e putrescente segue intacto, apenas com o bónus de não haver aquela careta sacana em processo quotidiano de troça da nossa cara. Dei caça ao modo sacana de estar na Política, modo que abominei, modo que derrotei centenas de batalhas depois. Terei de recomeçar all over again?

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