AUTÓPSIA A UM POVO DE PACHORRENTOS

Muito bem, Pedro. Hoje é um bom dia para me apaixonar intelectualmente por ti, introduzindo o meu membrudo raciocínio nesse teu post. Agora somos quatro numa espécie de bolinho de bacalhau de amor intelectual: tu, eu, o Luís e o Filipe. Já éramos estreitos os três. Faltavas tu. LOL Agora a sério: nós, portugueses, simplesmente substituímos a violência anti-institucional por uma violência difusa, atomizada, social, horizontal. Depois há outra coisa ainda mais poderosa e dissuasora: antes que nos queixemos e abrasemos a rua, vem a EDP, vem a GALP, vêm as Águas, vem o Gás, vem o Fisco, vêm as PPP, vêm as Taxas Moderadoras, vêm as facturas traiçoeiras e ranhosas das SCUT, vai e vem o caralho de quanta injustiça e esmifranço o Planeta Terra já viu. Recebemos tanto malho, flagelam-nos e desmoralizam-nos de tal modo que não há energia moral, mental, para lhes resistir sem um rasto de má consciência, tirando uns fogachos mal direccionados do tipo «Passos Gatuno» ou «Pinóquio, Ladrão, Fodeste o Povo ou não?». Portanto, se não consigo pagar toda esta merda, o defeito só pode ser meu, que não emigrei, que não estudei, que não me fiz político nos anos fáceis de Cavaco ou nos anos pauis de Guterres, que não soube fazer como Relvas, que não tive engenho de extorquir como Sócrates, que não fui sorna, habilidoso e ratazanal como Dias Loureiro, que não soube adoecer e arrepender-me de roubar muito, no tempo certo, como Oliveira e Costa. Como poderei, pois, ser violento e danado de raiva como um espanhol, sangrando e cuspindo nas praças, becos e ruas, se no fundo todo me compunjo por não ter tido, como me competia, o máximo de lata e competência técnica para ser um parasita de sucesso, como um Mário Soares, ou fagueiro burlão como um Vale e Azevedo, sempre luxuoso e glorioso de lágrima ao canto do olho, ou então, vá, no mínimo, um genoma perdido do Ricardo Espírito Santo Salgado?! O defeito, em suma, só pode ser meu. E então fecho-me em copas. Engulo o engulho e resguardo os cêntimos. Isolo-me no casulo egoísta, individualista, civicamente fechado que caracteriza o bom português metido consigo mesmo, hermético às causas comuns. Sigo desenrascado como calhe, de repente morto de fome a apodrecer num quarto por aí. Aliás, temos o Medina Carreira, o José Gomes Ferreira para se escandalizarem por mim e verberarem delicada e respeitosamente os filho da puta por mim. E não saio de casa.

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