HOLLANDE PARA CONVENCER OS PATEGOS

«Para acreditar na megalomania francesa, fora os franceses, só há os portugueses. A esquerda política e a esquerda bem-pensante que por aí se arrasta resolveu que o sr. Hollande, se ganhasse, ia com certeza mudar a “Europa” e o mundo. Isto mostra, em primeiro lugar, a ignorância de que a França se tornou desde a abjecta derrota de 1940 numa potência económica e militar de quinta classe, que vai aguentando um lugarzinho ao sol, pelo favor da América, que ela ostensivamente tanto detesta. E também mostra que na cabeça dos portugueses ficaram ainda os vestígios do tempo em que De Gaulle não se calava com a imaginária “grandeza” que supunha representar; e a “lúmpen-inteligência” indígena lia aplicadamente Sartre e Althusser. Com o “25 de Abril” e o “cavaquismo”, a França tinha desaparecido pouco a pouco do nosso pequenino universo. Mas parece que, talvez por desespero, voltou agora a ressuscitar. Na falta de “socialistas”, o sr. Hollande acabou por servir. A França do sr. Hollande é uma França com mais de 10 por cento de desemprego, um défice ameaçador, uma dívida de 90 por cento do PIB e uma economia em estagnação. De quase nenhuma destas pequenas contrariedades se falou na campanha. O sr. Sarkozy exibiu a sua xenofobia (até ameaçou que poderia sair de Schengen) e o sr. Hollande, com a imaginação que se lhe conhece, preferiu insistir na “social-democracia” da sua adolescência e prometeu 60.000 novos professores, 150.000 “empregos de futuro”, diminuir a idade da reforma, um subsídio de família maior e um imposto estapafúrdio, que atinge o número nunca visto de 200 ricos: por outras palavras, prometeu um magnífico regresso a 1960. Os franceses que se avenham com ele. Mas, seja qual for o resultado, no meio deste delírio, o sr. Hollande não se esqueceu da “Europa”. E, para a “Europa”, ele quer, evidentemente, uma mutualização da dívida, o BCE a imprimir papel (que já, de resto, imprime em grande quantidade) e um obscuro e definitivo “programa de crescimento”. Que a França não esteja em posição de impor nada à “Europa” aparentemente não o preocupa: a “grandeza” da França bastará para convencer os pategos. Sucede que de Helsínquia a Amesterdão, os pategos, embora possam seguir (prudentemente) a Alemanha, não seguirão com certeza o sr. Hollande, sobretudo quando ele se prepara para meter uma “Europa”, desorientada e frágil, num grande sarilho.» Vasco Pulido Valente

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