UM DELÍRIO-DELÍQUIO DE GOVERNO
«Tirando o primeiro-ministro
Ayrault (que não passa
por hermafrodito), o
primeiro Governo de
Hollande merece um
prémio pela sua justa e
já famosa “paridade”, que até
hoje muita gente prometeu e
ninguém cumpriu. O Governo
tem exactamente 17 homens
“contra” 17 mulheres, todos bona
fi de, claro, e todos merecedores
da confiança do povo, que em
conjunto representam com
fidelidade e escrúpulo. Uma ideia assim tem um grande futuro.
Um cálculo simples demonstra
que em 5 anos de mandato
estes 34 zeladores do povo
podem com facilidade (e alguma
aplicação) produzir 113,3 fi lhos,
não contando os gémeos ou uma
intervenção extracurricular de
DSK ou, numa hora de abandono,
do próprio Presidente. Ninguém
nunca dirá que não foi um
Governo fecundo.
Mas Hollande e Ayrault não
se esquecerem do resto da
correcção ideológica e política,
que lhes compete. Há um
ministro para a “Igualdade dos
Territórios e a Habitação”; um
ministro para a “Ecologia, o
Desenvolvimento Sustentado
e a Energia” (escusam de se
preocupar); um ministro da
“Revivescência Produtiva” (para
a França a crescer, como ela e a
“Europa” merecem); um ministro
para o “Trabalho, o Emprego e o
Diálogo Social” (presumivelmente
especializado em “diálogo”);
um ministro para os “Direitos
da Mulher”; um ministro para
o “Sucesso Educativo”; um
ministro dos “Idosos e dos
Dependentes” (de que muita
falta sinto em Portugal); um
ministro para a “Economia Social
e Solidária” (para estabelecer o
contraste com a economia social
e gananciosa); um ministro da
Família”; um ministro “Francês
e da Francologia”; e para chegar
ao fim de uma lista, praticamente
interminável, um ministro, muito
misterioso das “PME, da Inovação
e da Economia Numérica” (para
enterrar para sempre a economia
sem números).
Falando a sério, este Governo
que, segundo o PS, nos trará
a salvação, parece inventado
num delírio do “politicamente
correcto” ou num comício de
ONG no Grão-Pará. Infelizmente,
resume a cabeça do Partido
Socialista Francês, do nosso
PS e também do Bloco, e é um
esforço meritório para dar a cada
louco a sua mania. Não custa a
acreditar que a França, entregue
a esta trupe de fantasistas, com
meia dúzia de frases coladas ao
cérebro (supondo a existência
desse órgão em qualquer dos
novos senhores da França),
nos leve rapidamente para o
fundo.» Vasco Pulido Valente
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