O MOVIMENTO NEOLIBERAL É IMPOTENTE
«No debate de quinta-feira na
Assembleia da República
(apesar da gaff e de Pedro
Passos Coelho sobre o
desemprego), António
José Seguro demonstrou
que não tinha sombra de política
para o “crescimento”, excepto,
como toda a gente por essa
“Europa” fora, pedir à sra. Merkel
o dinheiro que ela não quer dar.
Não se pode dizer que seja muito,
sobretudo porque a própria sra.
Merkel (com ou sem a sombra
do sr. Hollande), já admitiu
relutantemente um pequeno alívio na “austeridade” até agora
imposta, sob forma de um pouco
de inflação na Alemanha, que,
dentro de um certo limite, lhe
convém a ela e convém à periferia
da “Europa”, principalmente à
Inglaterra (que exportará mais). O
sr. Seguro perdeu uma belíssima
ocasião de estar calado e de não
deprimir os portugueses para lá
do estritamente necessário, com
a cabeça vazia da oposição.
E, no entanto, a vulnerabilidade
do Governo, quase a fazer um
ano, nunca foi maior. Pedro
Passos Coelho, quando chegou,
prometeu “austeridade” e
reformas, que eram, além disso,
uma parte essencial do acordo
com a troika. A “austeridade”
veio logo e o país, como é natural,
não pensa e não fala de outra
coisa. Mas, tirando umas tantas
modifi cações na legislação laboral,
que eram, além disso, uma parte
essencial do acordo com a troika,
as reformas — que falharam,
que se arrastam, que continuam
persistentemente “em estudo”
(por quem?) — desapareceram de
cena. E nem o Governo, nem o
sr. Seguro se preocupam muito
a sério com elas, porque elas
são, como toda a gente sabe,
impopulares.
No meio da conversa sobre
a execução do orçamento e da
conversa fútil sobre a eleição do
sr. Hollande, quase não se ouve
uma palavra sobre a reforma
da administração local, que
ficará provavelmente reduzida
a meia dúzia de fusões de
freguesias de Lisboa e do Porto.
Do Estado central, onde pouco
se mexeu e menos se ordenou.
Da Justiça, por onde a sra.
ministra se passeia como um
fantasma romântico. Da Defesa,
onde os srs. generais — não se
percebe com que argumentos —
mandam tranquilamente como
de costume. Da Saúde, onde o
dr. Paulo Macedo se esforça sem
grande resultado por tapar um
buraco insondável. Ou mesmo
dos feriados, que levantaram uma
questão oficial com o Vaticano
e uma questão sem sentido com
um velho excêntrico. A verdade
é que o país, neste momento
sem dinheiro, está intacto e
pronto para voltar aos seus
queridos vícios. O movimento
“neoliberal”, que a esquerda
tanto teme, não o abalou.» Vasco Pulido Valente
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