2008: ALTA PRODUTIVIDADE CRIMINAL
O aumento da criminalidade, num país pacato como Portugal, é directamente proporcional ao esbulho sistémico de que têm sido vítimas os portugueses. As políticas dos últimos quatro anos, amigas do despedimento fácil, do alijar com as pessoas para situações irremediáveis, revela-se fatal e conduz a perversões drásticas. Por isso, 2008 que culminou esse cavar das desigualdades sociais e económicas foi provavelmente o ano mais violento de sempre, creio, nas últimas décadas de democracia. 2008 viu esse ápice do crime num momento em que multidões se deram conta de um País profundamente injusto na distribuição da riqueza. O Estado aperfeiçoou a cobrança fiscal sobre quem não tem nem exerce quaisquer manobras de escapatória, apertou com a Função Pública, hostilizou e atirou borda fora com activos humanos por razões hipócritas de 'boa governança e boa gestão' numa economia sem verdadeiras alternativas. Se se atiraram milhares para o desemprego e a precaridade, o preço só poderia ser pago em mais violência, mais assaltos mesmo por pequenas quantias de dinheiro nas gasolineiras, o que é sintomático, mesmo por montantes menores nos Bancos. Foi o surpreendente recrudescer de variadíssimas formas de criminalidade que pareciam arredadas da nossa realidade branda. Se por um lado essas políticas apertaram o cerco aos cidadãos no plano laboral, reduzindo as opções drasticamente e reduzindo também certos direitos, determinando um número nunca visto recentemente de novos emigrantes económicos, se essas políticas melhoraram os mecanismos de cobrança de praticamente todo o tipo de serviços, se desencantaram impostos rectroactivos injustos e massivos, se perseguiram, esmagaram e perseguiram a classe média, se o emprego oficialmente vem recuando há anos e é ainda pior não-oficialmente, não é possível auspiciar senão que a situação piore ainda mais. O nexo económico que encontro para o aumento da criminalidade não é da responsabilidade do actual MAI, mas é notório que o falhanço global dos índices securitários nacionais é da sua responsabilidade, pelo que pode ou não operacionalizar e exercer em matéria de prevenção activa e de esquemas de antecipação. Todos os agentes políticos e comentadores reclamam há muito a sua remoção e a assunção visível de todas as suas responsabilidades. Num governo porém, onde a bonecragem dos titulares dos vários ministérios esconde que le government c'est lui-Sócrates, exclusivamente, nada se espere. Este relatório atesta a incompetência sistemática quer do governo quer das suas políticas pseudo-reformistas sem qualquer tacto. Também aqui prevaleceu a fachada e a fantasia anunciativa como simulacro de acção. Um povo empobrecido, repleto de novos marginalizados, criminaliza-se necessariamente a fim de assegurar a sua sobrevivência e repor algum equilíbrio no sentimento geral de exclusão. Arvorado e homologado a uma estrutura Privada para com massas de funcionários, mas não para a estrutura administrativa composta por espessas e intrincadas amizades amgiuistas, o Estado, que deveria comportar-se como o garante de coesividade social, despoleta, pelo contrário, e irresponsavelmente, o pior do pior. Aguardemos, por isso mesmo, que algumas lições possam ser compensatoriamente assimiladas depois de bem estudadas e que o problema não se agudize: «A criminalidade violenta aumentou 10,7 por cento em 2008 face a 2007, de acordo com o Relatório de Segurança Interna relativo ao ano passado, que o Governo apreciou hoje em Conselho de Ministros e apresentou no Ministério da Administração Interna. A criminalidade geral teve uma subida de 7,5 por cento. O Relatório Anual de Segurança Interna de 2008 indica que as forças de segurança registaram um total de 421.037 crimes (mais de 1100 por dia), dos quais 24.313 foram graves e violentos. Entre os crimes violentos, destacam-se os assaltos a bancos e a bombas de gasolina, que aumentaram praticamente para o dobro.Verificaram-se 230 roubos a bancos, contra 108 em 2007, e 468 assaltos a postos de abastecimento de combustível, contra 241 no ano anterior.»
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