MAIS FUEL PARA UM ALARME AGRAVADO


O mal de este tipo de comunicados é que chegam tarde de mais. Mesmo que as palavras anestesiantes da PGR tivessem ressoado de modo antecipado e imediato, teriam chegado tarde de mais. É que arde que torra, e muito!, na prolongada pira mediática de exposição à Opinião Pública a mais intocável sumidade de toda esta famigerada questão. Chamuscado vai e protegido. Ardido e encurralado. Tempo suficiente passou para que meio mundo português reflectisse sobre quanto quanto lhe soou a estranho em toda a matéria ressuscitada Freeport. Não há fumo sem fogo. O que se pressente estar em causa e, mais que isso, o que a acurada intuição do senso comum já definiu para si foi a substância profundamente corrupta, lodosa de toda a questão abafada Freeport: o Caso é uma coisa moribunda que estrebucha e mostrará melhoras. Implica e entala gente com peso e ego e é por isso que há razões para um secreto forcejar por que se soterre tudo isto de oblívio e o mais célere possível. Nunca ninguém mereceu declarações com pompa, ameaçadoras e desagravadoras por parte de algum outro PGR. Ninguém. Há em tudo isto um grande subentendível: «Ide para casa. Não penseis(z) mais(z) neste assunto.» Por isso mesmo, os lugares comuns e as profissões de fé que agora o PGR veio enunciar, essas garantias e palavras de ordem para dentro da magistratura, de tão banais e esperados, longe de comportarem o regresso à serenidade, aduzem exactamente o contrário. Se houvesse todas as condições para o processo decorrer com normalidade nem seria necessário enunciar essa normalidade. Assim, o que semelhava anormal permanece anormal e agrava-se como anormal. E se não houvesse pressões de velha gente corporativa, repetente e danada sobre os seus colegas magistrados, também nunca seria necessário declarar que não há pressões sobre magistrados ou que se ia investigar, coisa que nunca se sabe em tal labirinto confuso de obediência à Força dos Fortes. Assim, para efeitos de percepção geral, as pressões existem e negá-las não as anula, pelo contrário amplifica-as. Em suma, o problema pragmático e performativo de todas as declarações sérias e solenes, em todos os tempos e lugares, englobando necessariamente estas do PGR, é este: instilarem o pânico e a desconfiança que visam remover. É mais um esforço desfocatório a somar a muitos outros. Sobram os exemplos de que quanto mais veementemente se afirma não haver quaisquer razões para alarme, mais se alarma. Lamentamos que o PGR se tenha incomodado, submetido às câmaras e aos holofotes, para nada ou, o que é pior, para o efeito diametralmente oposto ao pretendido. Mais fuel para a pira Freeport: «O procurador-geral da República (PGR) negou hoje a existência de "pressões e intimidação" sobre os magistrados do "caso Freeport", garantindo que "fracassarão" quaisquer manobras para criar suspeição e desacreditar a investigação. Em comunicado, Pinto Monteiro afirma que os magistrados titulares do processo "expressa e pessoalmente reconheceram", que "não existe qualquer pressão ou intimidação que os atinja ou impeça de exercerem a sua missão com completa e total serenidade, autonomia e segurança".»

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