MIREK TOPOLANEK NÃO É PORTUGUÊS
A República Checa, país bem mais culto, trabalhador e organizado que Portugal, ainda para mais presidindo à União Europeia, deve ter uma cultura parlamentar e governativa bem mais descomplexada, saudável e transparente que a nossa e um conceito de estabilidade igualmente descomplexado em face do que por cá defendem os comentadores oficiosos do Regime do alto das suas benesses e prebendas de papagaguear. Sem uma maioria monopartidária, é o caos em Portugal? Não. Será o dinamismo e a criatividade. Na República Checa, um governo e um primeiro-ministro postos em causa no Parlamento, demitem-se. Por cá, com tantas coisas a enegrecerem suspeitosamente a imagem pública do Sr. Sócrates, factos imensos e sucessivos, além de todos os sinais a vazio e a sucedâneo de acção (Magalhães. Painéis Solares), sinais que faz o favor de passar para a sociedade, acontece precisamente o oposto: um enclavinhar profundo das garras insaciáveis do aparatchik súcia-em-lista e o triunfo completo do sem semancol. Atestando o estado lastimoso da sensibilidade e sentido cívico, escreve Manuel António Pina que «Uma petição de sportinguistas exigindo a repetição da final da Taça da Liga "porque nós merecemos a taça, lutámos por ela com honra e amor à camisola" reuniu, em poucas horas, mais assinaturas que petição idêntica que anda há uma eternidade na Net (na Net, clica-se em qualquer sítio e aparecem duas ou três petições) apelando à demissão de Dias Loureiro do Conselho de Estado na sequência do caso BPN e dos "seus comportamentos que põem em causa o bom-nome do Conselho de Estado, da Presidência da República e do País". Quem julgasse que trafulhices de milhões como as do BPN chegariam para comover a Pátria, nunca, como na redacção daquela menina de Leiria, foi lá, à Pátria. A Pátria comove-se é com "penalties" roubados, não com milhões roubados. A Pátria não faz a mínima ideia do que é um milhão e está-se nas tintas (como o povo diz, isso são coisas "lá deles") para "o bom-nome do Conselho de Estado (de quem…?), da Presidência da República e do País". Ponham-lhe à frente uma petição a exigir a demissão do Eduardo de "Podia acabar o mundo" do tal Conselho de Estado, e essa, sim, a Pátria assina logo.», e a verdade é que o Portugal alienado, bruto, ignorante, manipulável e dormente, traços potenciados pelos media governamentalizados e hegemónicos, prova-nos todos os dias por que motivo diverge da UE, ao passo que a República Checa cresce e converge. Lamentamos, sr. Sócrates, mas deixar respirar a democracia e ter moral para falar é uma questão de vida ou de morte num Regime que oscila a olhos vistos: «Uma moção de censura contra o Governo checo, país que dirige este semestre a União Europeia, foi aprovada esta tarde pelo Parlamento de Praga e o primeiro-ministro Mirek Topolanek anunciou que vai renunciar ao cargo.»
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