MUI AMADO E SEMPITERNO AUTARCA
Operação sem anestesia é este cortejo a que nos obrigam os casos Fátima, Avelino e Isaltino. Retiram-nos a próstata a frio estes enunciados risonhos dos nossos mais célebres corruptos na fritura 'rápida' e indolor dos tribunais omni-absolventes. É de arrancar ovários este paleio pró-forma de encher tempo de antena em tribunal: «Não tive consciência de que havia um problema fiscal, nunca me passou pela cabeça». — diisse Isaltino. Uma comédia angustiante, aliás. Não estamos preparados para as desculpas infantis e esfarrapadas com que este jet-set da corrosão nacional nos cumula. Se fossem mais elaboradas as desculpas, e levassem o tempo que Rogério Alves leva a explicar por que motivo as provas do Caso Freeport caprichosamente não contam, ainda seria de entender. Mal, mas seria. Apesar de todo o Portugal ser uma malha de corrupção intrincada e inextricável, pátina que herdamos desde que a canela assomava ao Reino, pelo Cais das Colunas, temos os nossos limites para a tolerância com más narrativas, cheias de hiatos, falta de verosimelhança e aquela leviandade de quem nada tem no fundo a temer de maior. Do tribunal para a campanha e mai nada. Note-se, porém, que Isaltino será sempre mais um mui amado e sempiterno autarca, o grande Nabo. De Oeiras: «O autarca Isaltino Morais admitiu hoje que foi de "forma inconsciente" que não declarou uma conta bancária da Suíça ao fisco e ao Tribunal Constitucional e sustentou que algumas testemunhas do processo foram "ameaçadas para mentir". "Não tive consciência de que havia um problema fiscal, nunca me passou pela cabeça", disse o presidente da Câmara de Oeiras durante a manhã, na quarta sessão do julgamento do processo em que é acusado de um total de sete crimes de participação económica em negócio, corrupção para acto ilícito, branqueamento de capitais, abuso de poder e fraude fiscal.»
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